Câmara dos Deputados homenageia a vereadora Marielle Franco

As lideranças do PCdoB, PT, PSOl e outros partidos solicitaram a criação de uma comissão externa para acompanhar as investigações do assassinato da vereadora.

Marielle homenagem deputados - Foto: Richard Silva/PCdoB na Câmara

O Plenário da Câmara dos Deputados realizou nesta quinta-feira (15) sessão solene em homenagem à vereadora carioca Marielle Franco, de 38 anos, assassinada na noite de quarta-feira (14) na rua Joaquim Palhares, no Estácio, região central do Rio.

A vereadora foi morta no carro em que estava com quatro tiros na cabeça. No carro também estavam o motorista de Marielle, Anderson Pedro Gomes, também assassinado, e sua assessora, que foi atingida por estilhaços mas passa bem. Os criminosos fugiram sem levar nada.

Para a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), tentaram calar a voz da vereadora do partido, pois ela representava uma ameaça aos interesses das organizações criminosas instaladas no estado do Rio de Janeiro. “Nós acreditamos que o sangue da Marielle, e de todas as outras vítimas do arbítrio de um Estado autoritário, repressor, vai germinar como semente que brotará por milhares, milhões de Marielles pelo país a fora. Para dar continuidade a sua luta, o seu compromisso de defesa dos direitos humanos”, afirmou emocionada.

Em nome do PCdoB, da sua presidenta Luciana Santos e de toda a Bancada Comunista, a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG) expressou solidariedade aos familiares de Marielle e de seu motorista Anderson, aos seus companheiros de luta, às mulheres negras do Rio de Janeiro.

A parlamentar lembrou dos ativistas que foram assassinados neste ano. “Nós vimos assassinados Wladimir, do Pará; Paulo, do Pará; Márcio, da Bahia; Leandro, do Rio Grande do Sul, Jeferson, do Rio de Janeiro; Carlos, de Mato Grosso; George, de Pernambuco”, disse.

Os deputados e deputadas do PCdoB firmaram o compromisso com a apuração do crime e com a expressão da indignação do povo brasileiro, das mulheres brasileiras, dos trabalhadores brasileiros. “Nós somos de um partido e eu sou de uma geração que perdeu muitos dos seus jovens, muitas das suas mulheres, muitos dos seus filhos na luta pela liberdade. Nosso partido é de um tempo de tantos que se foram para resistir, para garantir que este país seja democrático, para garantir que esta democracia continue”, finalizou com a voz embargada a deputada Jô Moraes.

No início da noite de quarta (14), horas antes do crime, Marielle Franco havia participado de um evento de apoio a mulheres negras chamado “Jovens Negras Movendo as Estruturas”, na rua dos Inválidos, na Lapa, centro do Rio.

A estudante de Filosofia da Universidade de Brasília (UnB), Ana Luíza Guimarães, reafirmou a luta da parlamentar fluminense dizendo que a resistência permanecerá. “E como dói resistir. Mas vamos estar de pé, lutando para que nenhum jovem negro mais padeça nas periferias do Brasil [palmas], para que nenhuma mulher tenha que morrer. Vidas negras importam e vocês precisam enxergar isso. Nós queremos viver!”.

Quatro dias antes do crime, Marielle fez denúncias contra o Batalhão de Irajá (41º BPM) em seu perfil nas redes sociais, dizendo que a unidade estava “aterrorizando e violentando moradores de Acari”, comunidade na zona norte do Rio de Janeiro.

Em nota, o grupo Tortura Nunca Mais disse que considera o assassinato de Marielle a primeira execução política da intervenção militar no estado do Rio de Janeiro. “Entendemos que o país está sob um estado de exceção em que as forças fascistas estão agindo sem qualquer limite e avançando sobre a nossa sociedade”.

A Secretaria da Mulher da Câmara divulgou em nota que o crime cometido deixa a sociedade alerta contra o autoritarismo e a ameaça à democracia. “Contra uma jovem mulher negra, feminista, de origem humilde, defensora dos direitos humanos, e no exercício de suas funções parlamentares, demonstra ser um grave caso de feminicídio e de violência política contra a mulher que precisa ser imediatamente e ostensivamente investigado pelas autoridades competentes”, reforça.

Socióloga, Marielle foi assessora parlamentar do deputado estadual Marcelo Freixo, seu colega no PSOL, antes de se eleger vereadora. Em 2016, foi a quinta vereadora mais votada no Rio de Janeiro. Na Câmara de Vereadores, presidia a Comissão de Defesa da Mulher.

O presidente da Casa, Rodrigo Maia, disse que a Câmara instalará comissão de investigação do crime.