Morte da vereadora Marielle Franco repercute na imprensa internacional

O assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), ocorrido na noite desta quarta-feira (14) no Rio de Janeiro, repercutiu nos principais jornais do mundo. Muitos dos veículos relacionam a morte da ativista com a atuação dela em defesa dos direitos humanos.

Marielle Franco The Guardian - Divulgação

O caso apareceu em reportagens do New York Times, do Washington Post e da emissora BBC, entre outros veículos. "Um membro da Câmara da cidade e seu motorista foram mortos a tiros por dois assaltantes não identificados em uma rua no centro, no Rio de Janeiro, a segunda maior cidade do Brasil, onde militares foram convocados há um mês após uma onda de violência", diz o texto, que tem como origem a agência Associated Press.

O New York Times destacou o trabalho de Marielle nas comunidades e o fato de ela ter sido um dos cinco candidatos mais votados em 2016, além dos seus protestos contra a violência policial no Rio. 

Em artigo para o The Intercept, a jornalista, ex-consultora da Anistia Internacional e pesquisadora e gestora de dados do aplicativo Fogo Cruzado (que monitora a ocorrência de tiroteios no Rio), Cecília Olliveira, contou do momento em que ouviu os tiros e notificou sua incidência no aplicativo. Momentos depois, descobriu que se tratava de Mariella. "Essa é a terceira vez que eu notifico um tiro no Fogo Cruzado e ele atinge uma pessoa que eu conheço. Duas delas morreram. Duas delas eram da Complexo da Maré.Vocês já foram em velórios de gente assassinada? É horroroso. Os gritos de dor, os clamores por justiça. Justiça que raramente chega", escreveu. Cecília contou também que conheceu a vereadora 3 anos depois que se mudou pro Rio. "Ela já trabalhava dando suporte a vítimas de violência. Trabalho que ela começou a fazer após perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes na Maré".

O britânico The Guardian ressaltou que Marielle era ativista e especialista na análise de violência da PM. Além disso, o jornal reforça que a vereadora chegou a acusar os policiais de serem agressivos ao abordar os moradores das favelas do Rio. "Marielle Franco, vereadora e crítica da polícia, é executada a tiros no Rio", diz o título da matéria.

O News Deeply publicou uma longa matéria detalhando as ações e as conquistas alcançadas por Marielle na esfera social durante a sua carreira como militante e vereadora, especialmente quanto aos direitos das mulheres. 

Já a emissora multiestatal venezuelana TeleSUR lembrou que Marielle era uma das vozes mais “combativas contra a ocupação militar das favelas do Rio de Janeiro”. “Um dia antes de seu assassinato, a jovem socióloga havia denunciado a ação brutal e os contínuos abusos de direitos humanos por parte do exército na região de Irajá, na comunidade de Acari”, relata.

Na Argentina, o Página/12 destacou que Marielle havia sido nomeada como relatora da comissão que acompanha os trabalhos da intervenção militar no Rio de Janeiro e as constantes denúncias da vereadora sobre a violência policial na capital fluminense.

O também argentino, Clarín, entrou na mesma linha do Página/12 e ressaltou as recentes denúncias da vereadora sobre a violência da PM.

No Peru, um dos principais periódicos do país, o El Comercio, relatou o crime e ressaltou que a vereadora era crítica da intervenção federal na Segurança Pública do estado.

Em Portugal, o portal Esquerda.net afirmou que o Movimento Feminista Por Todas Nós vai organizar uma vigília em Lisboa para homenagear Marielle, o que deve ocorrer no próximo dia 19.

Já o francês Le Figaro ressalta que o assassinato de Marielle “provocou grande emoção no Brasil” e atenta para a convocação de protestos em todo o país. “Ela se opunha à decisão de Temer de colocar as forças armadas para a segurança do Rio e denunciava o crescimento da violência policial nas favelas”, denuncia o jornal.

Marielle, 38 anos, estava dentro de um carro no bairro de Estácio, centro da capital fluminense, quando criminosos emparelharam o veículo e abriram fogo. Foram disparados ao menos oito tiros contra o Chevrolet Agile. O motorista do automóvel onde estava a carioca, Anderson Pedro Gomes, também morreu. Os autores dos disparos não levaram nada.