Sem provas de ataque sônico, EUA reduz presença diplomática em Cuba

O governo dos Estados Unidos anunciou na noite desta sexta-feira (2) que irá manter a decisão de reduzir sua presença diplomática em Cuba. Os EUA acusam o país de um suposto ataque sônico cometido contra os funcionários de sua embaixada em Havana em agosto do ano passado.

Embaixada dos EUA em Cuba - Wikicommons

Em resposta à decisão, o diretor para os Estados Unidos do Ministério dos Exteriores de Cuba, Carlos Fernández de Cossío, afirmou por meio de sua conta no Twitter que “é falso que o pessoal diplomático da embaixada esteja ou tenha estado em risco”.

“O governo dos EUA tem provas suficientes de que Cuba é um país seguro para os diplomatas americanos e de qualquer outro país, assim como para os cidadãos cubanos e os mais de quatro milhões de estrangeiros”, afirmou o diplomata na rede social.

Segundo ele, “é falso que possa ter acontecido em Cuba por parte de alguém uma ação deliberada contra diplomatas dos Estados Unidos”. Cossío disse ainda que a decisão “responde a motivações políticas e não tem relação alguma com a segurança de seus funcionários em Havana”.

A decisão dos EUA representa um dos mais fortes distanciamentos diplomáticos entre os dois países desde que Donald Trump assumiu a Casa Branca.

FBI e cientistas contestam existência de ataque sônico

Segundo um comunicado divulgado pela agência de notícias Associeted Press em janeiro deste ano, o FBI (Federal Bureau of Investigation) não encontrou provas de que tenha ocorrido um ataque sônico contra a embaixada.

De acordo com a agência, o FBI testou uma série de hipóteses, entre ondas audíveis, ultrassônicas e infrassônicas. Porém, não encontrou nenhuma evidência de que elas pudessem ter sido utilizadas para ferir funcionários da embaixada norte-americana.

Além disso, cientistas ouvidos em outubro do ano passado pelo jornal norte-americano The New York Times também rejeitaram a possibilidade de um ataque desta natureza.

“Eu diria que é bastante implausível”, afirmou ao jornal o físico Jürgen Altman, da Technische Universität Dortmund, na Alemanha. “Por que entrar lá com paus e armas se você pode ir com algo simples, como um gerador de som?”, ironizou Geoffrey S.F Ling, neurologista na Universidade Johns Hopkins.

Pesquisas envolvendo armamento sonoro não letal ocorrem há décadas – inclusive feitas pelo Pentágono -, e já foram usadas para dispersar manifestações. No entanto, essas armas são feitas para produzir um som muito alto, algo que teria sido facilmente notado.

Mesmo que outras pesquisas tivessem tido sucesso em desenvolver uma arma ultrassônica, as leis da física tornariam improvável que a arma conseguisse afetar alguém que estivesse a uma longa distância. “Ultrassom não pode viajar uma longa distância”, afirma Jun Qin, engenheiro acústico pela Universidade do Sul de Illinois.arço a embaixada “continuará operando com o mínimo pessoal necessário para dar prosseguimento às funções diplomáticas e consulares centrais”, anunciou o Departamento de Estado norte-americano.

O anuncio dá continuidade a uma decisão tomada em setembro do ano passado, quando o governo dos EUA retirou 24 funcionários da embaixada norte-americana em Havana. Segundo os Estados Unidos, os funcionários teriam relatado sintomas como náuseas, vômitos e tonturas após terem ouvido um som de baixa frequência, que os EUA passou rapidamente a qualificar como um ataque sônico.