Cenário mundial mostra que privatizar Eletrobras é ir na contramão

“Eletrobras perde relevância na geração de energia do país” e “Eletrobras não pode ficar a serviço do uso político” são manchetes publicadas no final e início da semana na grande mídia que mostram que se intensifica a campanha do governo de Michel Temer pela privatização da estatal. Quem faz a denúncia é Fabíola Latino Antezana, secretária de Energia do Sindicato dos Urbanitários do Distrito Federal (STIU-DF), entrevistada nesta segunda-feira (26) pelo Portal Vermelho.

Por Railídia Carvalho

Energia não é mercadoria é bem social - Arquivo do Sindicato dos Urbanitários no DF

De acordo com a dirigente, o Planalto contratou uma empresa de comunicação – com dispensa de licitação – para convencer a população de que a privatização é boa para o país. Fabíola afirma que o governo usa dados de 2014 e ignora estatísticas de 2015 e 2016, quando a empresa tem um papel de recuperação financeira. “Com a retirada da pauta da reforma da previdência sabíamos que seríamos a bola da vez. Com essas matérias querem destruir a imagem positiva que a Eletrobras tem, principalmente no norte e nordeste”, enfatizou Fabíola.

O contraponto do movimento sindical e social tem sido o uso das redes sociais através da campanha “Energia não é mercadoria”, atuação no Congresso Nacional através da criação de frentes parlamentares (foram criadas seis desde o ano passado), diálogo com as centrais sindicais e entidades da sociedade civil como Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). “A SBPC tem boa inserção na universidade para fazer o contraponto”, argumentou Fabíola.

Em entrevista publicada nesta segunda-feira (26) na Folha de S. Paulo, o ministro das Minas e Energia deixa claro que “não é papel do Estado ficar colocando dinheiro na Eletrobras”. Fabíola rebate o ministro: “As grandes obras estruturantes dos últimos tempos foram feitas porque a estatal colocou recursos quando o setor privado não cumpriu o compromisso. Foi o que aconteceu no rio Madeira e em Belo Monte”, exemplificou.

Fabíola afirmou ainda que a política de Michel Temer para a Eletrobras se opõe à forma como diversos países, como EUA, Canadá, França e China, tratam a questão. “O Brasil quer ir contra o restante do mundo em um setor tão estratégico. Todos os países com um mínimo de nacionalidade mantêm a parte de geração hidrelétrica na mão do Estado. Mas não só como geradora de energia fazem também geração dos cursos de água”, informou a diretora do sindicato.

O sindicato tem usado experiências de privatização do setor elétrico em países como Argentina e Portugal para combater a privatização da Eletrobras. “Em dois anos de privatização do parque energético argentino a tarifa subiu 700%. Portugal que privatizou o setor há 8 anos também teve aumento superior a todo o restante da União Europeia, que é estatal”, lembrou Fabíola.

O governo enviou no final de janeiro o Projeto de Lei que privatiza a Eletrobras. O objetivo é arrecadar em torno de 12 bilhões de reais com a privatização. “Querem passar o controle para o mercado privado por 12 bilhões enquanto os ativos da Eletrobras estão orçados em 400 bilhões de reais. Além disso a Eletrobras tem a receber 40 bilhões em indenizações do governo. A empresa privada sabe que vai comprar por 12, vai entrar 40 e vai explorar em um valor acima do que é hoje. É um negócio da China”, denunciou a dirigente.