A Campanha da Fraternidade e a superação da violência

por Vanderlei Siraque*

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O tema da campanha da fraternidade deste ano, promovido pela CNBB está no caminho certo para uma reflexão e ações prática de prevenção e combate a todas as formas de violência existentes no Brasil. O fato é que temos mais de 60 mil homicídios por ano, sendo que na grande maioria não são identificados os autores e nem as circunstâncias dos assassinatos e quando identificados, a justiça não é feita, pois apenas uma pequena parcela é punida e, pior, muito tempo após a ocorrência do crime e, ainda, as vítimas diretas são esquecidas pelo Poder Público e pela Comunidade.

Além dos homicídios, temos a violência de gênero, de geração e os crimes de intolerância contra a liberdade de orientação sexual, a pedofilia, a violência racial, a violência pela condição social, a violência no trânsito, a violência das filas no sistema de saúde, a violência do monopólio da mídia, a violência do desemprego e da falta de renda própria de milhões de brasileiros e brasileiras.Mas não adianta ficar reclamando, teorizando, aumentando as penas, modificando a legislação ou promovendo e assistindo os programas sensacionalistas que enchem os apresentadores e as redes de comunicação social de dinheiro: nada disso resolve.

Temos que cortar o mal pela raiz e, assim, atacar as causas da violência e, portanto, não ficar apenas no combate às suas consequências. Neste sentido é preciso:
– 1. A violência foi culturalmente construída. Não é inata ao ser humano. Logo, podemos mudar a cultura da violência, mudando a cultura machista, e, assim, desconstruí-la.
– 2. Incentivar a mediação de conflitos e a Justiça Restaurativa.
– 3. Focar nas vítimas da violência e lhes garantir assistência.
– 4. A dignidade humana é a vida devem ser os bens e os valores maiores das comunidades. Por isso a dignidade humana é a vida precisam de promoção e não os bens materiais (estes são meios e não fins).
– 5. Campanha do desarmamento permanente e a proibição do comércio de armas de fogo para civis.
– 6. Tratar os vícios,especialmente álcool e drogas, como um problema de saúde pública e não como um problema criminal.
– 7.Promover a igualdade de oportunidades, de condições, de possibilidades entre as pessoas e as políticas públicas afirmativas.
– 8. Os presos precisam trabalhar e estudar nos presídios, pois tem todo o tempo do mundo.
– 9. É necessário políticas públicas para os egressos do sistema penal.
– 10. Mesmo as pequenas infrações devem ser reparadas, desde a primeira vez.Isso é função, papel das famílias,das escolas, das igrejas,das comunidades. Mas sem exposição do infrator.
– 11. É preciso prevenir e combater situações de Bullying, situações vexatórias, situações de humilhações e de injustiças.
– 12. Sempre lembrar a célebre frase de Paulo VI: "A justiça é o novo nome da paz".

Não há paz sem justiça e não há violência com justiça. Abraços e uma ótima Quaresma e reflexões para nós.

Vanderlei Siraque é presidente do PCdoB-Santo André.

* Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.