Europa e EUA aumentam cerco contra Venezuela

Dois dias depois de a oposição venezuelana recusar assinar o acordo de convivência e paz que vinha sendo negociado com o governo de Nicolás Maduro, o líder da delegação opositora anunciou que está de viagem marcada para o exterior.

Por Fania Rodrigues

Juan Manuel Santos e Rex Tillerson - Presidência da Colômbia

“O deputado da Assembleia Nacional e chefe da delegação opositora na mesa de negociação, Julio Borges, anunciou que iniciará uma série de viagens internacionais para denunciar a grave crise política e social”, divulgou o partido Primeiro Justiça, por meio de nota.

Para o analista político Miguel Angel Perez Pirela a reação da direita venezuelana ao não aceitar assinar o acordo com o governo está coordenada com os Estados Unidos e a Europa. Isso porque alguns países aumentaram às críticas e até sanções contra a Venezuela essa semana, logo depois que a oposição anunciou que teria acordo com o governo.

Nessa sexta-feira (9) o senador dos Estado Unidos, Marco Rubio, subiu o tom ao falar da Venezuela. “O mundo apoiaria as Forças Armadas da Venezuela se ela decidisse proteger o povo e restaurar a democracia, removendo um ditador”, disse nas redes sociais o deputado do Partido Republicano, o mesmo de Donald Trump. A declaração teve o mesmo tom da afirmação feita pelo secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, que na semana passada insinuou que poderia haver um golpe por parte dos militares contra o presidente Maduro.

Na Europa, o clima contra a Venezuela não está menos hostil. O Parlamento Europeu aprovou, na última quinta-feira (8) sanções contra o presidente Nicolás Maduro, o vice-presidente Tareck El Aissami, o ministro da Defesa Vladimir Padrino Lopez, entre outros comandantes militares e membros de suas famílias. No mês passado, os mesmos parlamentares haviam outros sancionado funcionários do Estado venezuelano, entre eles ministros e membros do Poder Eleitoral.

Nesse mesmo dia, o presidente da Colômbia, Juan Manual Santos, anunciou que reforçará a segurança na fronteira com a Venezuela. O objetivo não reprimir os crimes de contrabando de alimentos e gasolina que passam da Venezuela para Colômbia, mas “sim conter o fluxo de imigrantes venezuelanos que chegam em território colombiano”, disse Santos.

O Brasil também prometeu enviar militares para a fronteira com a Venezuela. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou que vai duplicar o contingente em Boa Vista, passando para 200 soldados.

No entanto, a reação internacional diante da falta de acordo entre oposição e governo venezuelano vão na contramão dos relatos dos mediadores internacionais do diálogo de paz. Segundo uma carta aberta divulgada pelo ex-presidente da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, foi a oposição que decidiu, de última hora, não assinar o acordo que havia sido trabalhado durante meses entre as partes que sentaram na mesa de diálogo.

“De maneira inesperada para mim, o documento não foi assinado pelos representantes da oposição. Não faço juízo de valor sobre as circunstâncias e os motivos, mas meu dever é defender a verdade e meu compromisso é não dar por perdido, o que poderia ser, um acordo entre venezuelanos”, esclareceu Zapatero.

O analista político venezuelano Miguel Angel Perez Pirela alerta para o que ele chamou de uma nova fase de agressão contra o Estado venezuelano. “O Estado moderno é conformado de três elementos principais: Um líder eleito democraticamente, forças armadas comum que detém o monopólio das armas e as fronteiras claramente delimitadas. Esses três elementos estiveram sobre ataque essa semana”, analisa o filósofo e comunicador Perez Pirela, fundador do site venezuelano de notícia La Iguana.

Para a socióloga brasileira Aline Piva, radicada nos Estados Unidos, a elevação do discurso naquele país em relação a Venezuela tem relação direta com a presença da Rússia e da China nesse país sul-americano. “É no mínimo curioso a retomada do discurso de intervencionismo militar justamente quando Washington eleva o tom das críticas à presença de Rússia e China na região. É sempre bom lembrar que o ciclo das ditaduras militares na América Latina foi parte da estratégia dos Estados Unidos para frear o avanço da influência da então União Soviética na região”, avaliou a socióloga.

Depois da visita Rex Tillerson na América Latina, o presidente Juan Manuel Santos afirmou que vai ampliar o Plano Colômbia, acordo militar com os Estado Unidos, executado desde o ano 1999. Além disso, o Grupo de Lima, composto por 13 países latino-americanos e Estados Unidos, afirmaram que vão avaliar possíveis medidas contra na Venezuela no próximo encontro previsto para o dia 13 de fevereiro.