Petrobras perde espaço na produção nacional e dá lugar às estrangeiras

Como parte da estratégia de desmonte do Estado brasileiro e dos agrados aos interesses estrangeiros, a Petrobras tem perdido espaço na operação dos principais projetos de óleo e gás do país. Sob o governo Michel Temer, as petroleiras de fora do Brasil expandiram sua atuação em 2017, enquanto a participação da estatal verde-amarela na produção nacional recuou 3,7 pontos percentuais, algo que deve se agravar ainda mais em 2018.

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Reportagem do jornal Valor Econômico desta sexta (9) explicita que as petrolíferas estrangeiras e as pequenas e médias produtoras nacionais (privadas) se movimentam com sucesso para garantir um lugar na nova divisão de poder do pré-sal, após as mudanças nas regras para a exploração da maior reserva de petróleo do país.

"Em 2017, as petroleiras estrangeiras e as pequenas e médias produtoras nacionais (como Queiroz Galvão, PetroRio e Dommo Energia) produziram, juntas, em média, 582 mil barris/dia de petróleo, o que representa um aumento de 25% ante 2016. E a participação da Petrobras na produção nacional recuou 3,7 pontos percentuais, para 77,8%, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP)", diz o texto. 

A perda de papel da Petrobras beneficiou principalmente companhias como Shell, Petrogal e Repsol Sinopec. E a desconcentração da exploração das riquezas brasileiras deve se ampliar no futuro, a partir do resultado dos últimos leilões do pré-sal. 

Nos primeiros leilões para exploração dos campos do pré-sal sem a exigência de a Petrobras ter participação em todos os blocos ofertados, as grandes estrangeiras do setor esquentaram a disputa, em especial naquelas áreas em que houve sinalização de interesse da petroleira estatal brasileira.

O saldo disso é que, dos 43 ativos licitados em 2017, dez foram arrematados pela Petrobras e 33 por 16 outras operadoras, como Shell, ExxonMobil, Statoil, Repsol e CNOOC.

À medida que a Petrobras vai perdendo participação, mais se distancia o sonho de que a renda petroleira seja revertida para o desenvolvimento do país e possa beneficiar a maioria da população. 

Um relatório da Atlantic Council recomendou que o “o país necessita destravar o seu potencial e aumentar a produção de petróleo e gás. O pré-sal deve ser aberto a diferentes operadores. (…) Investidores capazes de precificar corretamente oportunidades de investimento, ativos e empresas no Brasil têm diante de si a maior janela de oportunidade em décadas”.

De acordo com o economista do Dieese, Cloviomar Cararine, "não há dúvidas, portanto, que desde a descoberta do pré-sal pavimentou-se um caminho para atuação das empresas estrangeiras que se intensifica exatamente no momento que a Petrobras adota um papel coadjuvante no setor nacional". 

"Dadas as atuais características das segunda e terceira rodadas do leilão do pré-sal, no contexto de mudanças regulatórias, o Estado brasileiro abrirá mão de enormes massas de recursos financeiros e produtivos e de sua capacidade de apropriação de parte importante da renda petrolífera gerada no pré-sal, que poderiam ser destinadas para o desenvolvimento industrial e social do país", disse.