Queda na bolsa expõe disputa entre trabalhadores e rentistas

A Bolsa de Valores de Nova York fechou em queda de 4,6% nesta segunda-feira (5), a maior retração diária desde agosto de 2011. O movimento contaminou outros mercados, em especial os da Ásia e da Europa, que também encerraram em baixa nesta terça (6). O episódio ajuda a explicitar o caráter perverso da financeirização da economia global, que contrapõe trabalhadores e rentistas.

Por trás da queda brusca das bolsas, está algo que poderia ser visto como motivo de comemoração. E é, a depender da classe social. O fato é que o salário/hora nos Estados Unidos aumentou 2,9% em janeiro, chegando ao valor mais alto desde 2009. Soma-se a isso um recuo adicional no desemprego do país, que está em 4,1%. Bom para os assalariados, o cenário é entendido pelos agentes do mercado financeiro como um sinal de que a inflação deve subir.

O temor do mercado se dá porque um eventual crescimento nos preços pode levar o banco central norte-americano, o Federal Reserve, a elevar a taxa de juros em uma velocidade maior que a esperada. Tudo isso significa custos de financiamento mais altos e rentabilidade mais baixa para as empresas. E afasta investidores de ações, os levando a optar por títulos.

Assim, depois de um período de tranquilidade, em que os valores das empresas só faziam subir, em especial em Wall Street, no centro do capitalismo financeiro, veio então o baque da segunda-feira, que se espalhou para o restante do mundo nesta terça.

O medo do aumento de juros se transformou em vendas rápidas geradas por ordens de computador, que derrubaram o índice Dow Jones em mil pontos, em menos de uma hora. O pânico foi ampliado pelo fato de esta semana ter começado a trabalhar o novo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Investidores têm dúvidas se ele praticará a mesma política de juros tão baixos que vigorava até então.

E os próprios programas de computador que controlam quase todo o comércio de ações também podem ter sua parcela de culpa no despencar das ações. Isso porque tendem a aprofundar uma tendência de baixa, à medida que emitem novos sinais de venda quando os preços caem.

Analistas avaliaram nesta terça que a queda brusca no valor das ações não deve ser motivo de tanto alarde nem representar impactos mais profundos, pois tratou-se mais de um ajuste, depois de um período de "euforia" nas bolsas, que contabilizavam recordes atrás de recordes positivos.

O episódio, contudo, ilustra bem o quanto o tal mercado é hostil aos trabalhadores, explicitando todo o seu "mau-humor" a cada pequena conquista deles.