Exposição online exibe as últimas cartas do Holocausto

Em exposição online, Memorial Yad Vashem, em Israel, mostra cartas que judeus de várias partes da Europa escreveram de seus esconderijos antes de serem assassinados pelos nazistas.

Crianças no Holocausto - Arquivo do Memorial Yad Vashem

Em 16 de junho de 1942, Fanja Barbakow estava escondida numa vala subterrânea. A própria família havia cavado o esconderijo – sob o porão de sua casa no gueto da cidade polonesa de Druja. Logo os alemães liquidariam o gueto. Fanja sabia o que isso significava, ao escrever estas linhas:

"Meus queridos! Estou escrevendo esta carta antes da minha morte, mas não sei o dia exato quando eu e meus parentes seremos mortos, apenas porque somos judeus. […] Minha mão está tremendo e é difícil terminar. […] Como eu gostaria de viver e alcançar algo de bom! Mas tudo já está perdido […] Adeus. Sua parente Fanja, em nome de todos: pai, mãe, Sima, Sonja, Susya, Rasia, Chutza (Jecheskel). E em nome do pequeno Seldaleh, que ainda não entende nada."
Foi a última carta escrita por Fanja. Como ela previa, o esconderijo foi encontrado pelos nazistas, e a família foi assassinada. Ela não tinha mais que 19 anos. Mas a carta sobreviveu. Um vizinho a encontrou, entregando-a mais tarde a um sobrinho dela.

Hoje, a carta está na internet, numa exposição online do memorial do Holocausto Yad Vashem. Qualquer um pode lê-la.

Últimas cartas do Holocausto, 1941-1942 é o nome da exposição agora online. Um total de dez cartas, traduzidas para várias línguas, como alemão, espanhol e inglês, foi disponibilizado pelo memorial, escritas por pessoas assassinadas no Holocausto.

São as últimas linhas antes da morte. As cartas vêm de toda a Europa, da Polônia, da Romênia ou da França; foram enviadas aos parentes na Inglaterra ou na Palestina. Mais tarde, as famílias as entregaram ao Memorial Yad Vashem.

"Estas cartas significam muito para mim", diz Yona Kobo, curadora da exposição. "A caligrafia é como uma impressão digital dessas pessoas. Elas tocaram o papel. Ainda se podem ver manchas e às vezes as lágrimas que foram derramadas."

Palavras de esperança

O período 1941-1942, em que as cartas foram escritas, marca o começo do assassinato em massa e organizado de pessoas de fé judaica. A Conferência de Wannsee, na qual os nacional-socialistas decidiram "aniquilar" os judeus da Europa, ocorreu somente no início de 1942, embora centenas de milhares de judeus já tivessem sido mortos naquele momento. A máquina da morte de Auschwitz e outros campos de extermínio foram responsáveis, no final, por mais de seis milhões de vítimas judias.

A maioria dos autores das cartas não sabia que nunca mais veria suas famílias e amigos. Muitos asseguravam a seus parentes que iam bem, que a guerra iria acabar e que eles poderiam se reencontrar em breve. Como Isaac Kornowski, do campo de concentração francês de Drancy:

"(Vocês devem) ser ainda mais corajosos e não percam a esperança de que, um dia, estaremos juntos novamente, como no passado. Deixo um abraço forte e mais um, e mais um. Em breve, vamos nos reencontrar." Sua esposa Chaya e os filhos Paul e Henri receberam a carta, sem saber que, no dia seguinte, Issac seria deportado para Auschwitz, onde viria a ser assassinado.
Da poeira dos arquivos para o celular

"Trazemos as histórias da poeira dos arquivos para o celular", afirma Kobo. "Todos os anos, cerca de um milhão de pessoas visitam Yad Vashem. Muitos milhões a mais podemos alcançar online. A tecnologia não conhece fronteiras."

As exposições online são apenas uma das muitas abordagens de Yad Vashem, explica a curadora. "Continuaremos a expor aqui no local, a publicar livros, a conversar com sobreviventes."
Mas em poucos anos não haverá mais testemunhas vivas. "Ainda não quero pensar nesse dia", diz Kobo, ela própria filha de sobreviventes do Holocausto da Alemanha e da Polônia.

As cartas permanecerão na web. E elas não apenas lembram os mortos, os autores das cartas que foram assassinados pelos nazistas. Elas também contam sobre aqueles que as guardaram.