Em Salvador, encenação de um tribunal popular julga e absolve Lula

A Frente Brasil Popular (FBP) e a Frente Brasil de Juristas pela Democracia (FBJD) realizaram, nesta terça-feira (23/01), em Salvador, um júri simulado para discutir, em praça pública, o processo criminal que acusa o ex-presidente Lula dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O resultado da encenação, que acontece na véspera do julgamento em segunda instância do ex-presidente, foi a absolvição por falta de provas.

O julgamento simulado aconteceu em frente ao Fórum Ruy Barbosa, no Campo da Pólvora, e foi conduzido por um juiz de verdade, o titular da 8ª Vara de Família de Salvador, Maurício Brasil, que integra a Associação de Juízes pela Democracia (AJD). Em entrevista ao Portal Vermelho, o magistrado afirmou que, embora não possa comentar o processo do ex-presidente, de competência da Justiça federal, manifesta preocupação com as ‘decisões judiciais aceleradas e sem provas’.

“Somos críticos não só desse processo, mas de todos os processos julgados sem prova, em que não há um conjunto de provas que possa possibilitar ao julgador decidir com calma, com consciência. Nesse aspecto, estou aqui também apoiando o movimento para que a gente tenha um julgamento justo, que tenha as bases legais, constitucionais, de qualquer processo penal”, disse o juiz baiano.

Para a encenação, além do juiz, foram chamados atores que representaram defensores, acusadores, testemunhas e interessados na condenação de Lula, como banqueiros e latifundiários. O ator que representou o procurador do Ministério Público Federal (MPF) que acusa o ex-presidente foi muito vaiado pela população que acompanhava o julgamento; a atriz que fez o papel da advogada de defesa, ao contrário, foi ovacionada.

A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), que integra a Frente Brasil Popular, participou da organização da atividade. O objetivo, segundo a vice-presidenta estadual da CTB, Rosa de Souza, foi demonstrar à população as injustiças em torno do processo contra Lula, “que não tem provas, não existe crime comprovado”.

Julgamento político

Presente no ato, o deputado federal Daniel Almeida (PCdoB) fez coro com as críticas ao processo e garantiu que a questão não é jurídica, mas política. “Pelos aspectos técnicos, não há nenhum indicativo de que Lula possa ser condenado. Não conheço nenhum parecer de juristas sérios nesse sentido. Esse julgamento se reveste do elemento da política, com um objetivo cada vez mais explícito de tirar Lula da disputa de 2018”, disse.

O presidente da União dos Estudantes da Bahia (UEB), Natan Ferreira, também acompanhou a encenação, e afirmou estar convencido de que, realmente, não há provas para a condenação do ex-presidente. “A gente vê aqui o que está acontecendo, a partir da sentença do juiz Sérgio Moro [juiz que proferiu a condenação em primeiro grau], é um ataque a Lula, sem provas. O que a gente quer é ter respeitada a nossa democracia, é ter a nossa Constituição esteja em evidência”.

As mobilizações em Salvador em apoio a Lula continuam nesta quarta-feira (24), dia do julgamento do ex-presidente no Tribunal Regional Federal da 4ª região, em Porto Alegre. Uma vigília será feita também no Campo da Pólvora, a partir das 8h30, seguida de uma passeata pelas ruas do Centro da capital baiana.

De Salvador,
Erikson Walla