São Paulo tem o primeiro serviço de carona em bicicleta do mundo

A volta ao Brasil – e aos congestionamentos paulistanos – foi o ponta pé inicial do que se transformou no primeiro serviço de carona compartilhada em bicicletas do mundo. Espécie de "uber de bicicleta", o Bikxi nasceu quando o hoje empresário Danilo Lamy, 30 anos, voltou de uma temporada de três anos trabalhando no mercado financeiro em Nova York (EUA).

Bikxi bicicleta - Carlos Alkmin/Bikxi/Divulgação

"Me deparei com o tempo perdido, todo aquele estresse. Morava perto de uma ciclovia e resolvi tentar usar a bicicleta", lembra Lamy.

Para encarar o percurso de mais de dez quilômetros veio a bicicleta elétrica como aliada. "Eu não só chegava mais disposto, mais feliz, mas também em metade do tempo que levaria de carro. E essa foi a chave: por que não está todo mundo andando de bicicleta?", conta o economista, que mesmo antes da volta ao Brasil já pesquisava o universo das startups e tinha o desejo de empreender.

O nome Bikxi, que mistura as palavras bike e táxi, resume a ideia: um sistema de transporte compartilhado, assim como o Uber ou o Cabify, mas que usa como veículo a bicicleta. Outra diferença em relação ao Uber é que os veículos elétricos são da empresa e não dos condutores, e os ciclistas são treinados pela companhia.

Inspiração asiática

Ao incentivar os colegas a pedalar, Lamy entendeu melhor quais as restrições que o modal enfrenta numa cidade como São Paulo: falta de segurança – em relação ao risco de acidentes e assaltos – e a carência de locais para guardar a bicicleta e trocar de roupa antes do expediente. "Veio a ideia de juntar o melhor dos dois mundos: a carona compartilhada e a bicicleta", afirma.

A primeira inspiração foram os tuk-tuks, tipo de triciclo, motorizado ou não, bastante comum no sudeste asiático. "Mas eu buscava uma proposta diferente, não queria que o passageiro ficasse como numa carroça puxada pela bicicleta. Assim, não haveria a experiência da bicicleta", conta.

Além disso, seu formato ocuparia a ciclovia inteira. "Veio a ideia de usar uma bicicleta dupla, que dá todos os benefícios, pois a preocupação era criar algo que fosse bom para quem está usando, para quem está conduzindo e para as pessoas ao redor", reforça.

A bicicleta foi desenvolvida exclusivamente para o serviço. São dois bancos de couro, sistema elétrico de pedal assistido, bagageiro, porta-luva e pedais independentes para o passageiro pedalar se ele quiser. A empresa também oferece ao passageiro o capacete, touca higiênica e capa de chuva.

Como funciona?

As bicicletas circulam por um trecho de mais de 20 quilômetros conectado por ciclovias e ciclofaixas entre o Ceagesp, na Vila Leopoldina, Zona Oeste da capital, e a Ponte do Morumbi, na Zona Sul.

O principal eixo é a ciclovia da Avenida Faria Lima, que interliga importantes centros comerciais e de escritórios da cidade, como Pinheiros, Vila Olímpia e região da Berrini. "Tem muita empresa, muito congestionamento e muita saída das estações de trem. Nossa ideia é também criar essa conexão, essa solução do último quilômetro", explica Lamy.

O objetivo é integrar modais. "É para distâncias curtas. Em vez de ficar naquele miolo, preso, o passageiro vai de bike. Ele pode estacionar num lugar mais longe e pegar a bicicleta, ou ficar mais longe de táxi", explica.

Atualmente são dez bicicletas que atuam de segunda-feira à sexta-feira das 7 horas às 20h30 e conduzidas em turnos por 20 ciclistas.

Os passageiros podem solicitar a bicicleta pelo aplicativo, como nos serviços de carona em carro ou táxi, e fazer o pagamento também pelo app.

É possível também pedir a bicicleta na própria via. Nesse caso, o pagamento é feito com cartão, já que os condutores não levam dinheiro.

O cálculo do valor cobrado é feito somente pela distância percorrida. "A analogia com Uber é inevitável e em termos operacionais é bem parecido", compara Lamy, que explica, porém, que não há cobrança da bandeira, apenas dos quilômetros de fato percorridos. O foco, inclusive, é nas corridas de até sete quilômetros.

O valor do serviço é de 2,15 reais por quilômetro rodado, com tarifa mínima de 3,50 reais. Para um efeito de simulação, um passageiro que pegar o Bikxi na saída da Estação Faria Lima do Metrô, em Pinheiros, com destino à Avenida Juscelino Kubitschek, no Itaim Bibi, gastará por volta de 5 reais. O ônibus sairia por 4 reais.

O aplicativo foi lançado no fim de setembro e já foram mais de 7 mil corridas, com uma alta taxa de usuário recorrente, explica Lamy. Ainda há gargalo de oferta nos horários de pico, por isso a meta do empresário neste ano é aumentar a frota e reduzir o tempo e espera dos usuários.

Outro ganho, além do tempo do passageiro, é para o meio ambiente. Segundo o empresário, desde que o serviço entrou em operação três toneladas de dióxido de carbono deixaram de ser emitidas, conta feita com base nos quilômetros que deixaram de ser rodados por automóveis.