Presidenciável, Maia diz que Bolsa Família escraviza as pessoas 

Aliado de um governo que ataca direitos sociais, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse na manhã desta quarta (17) que o Bolsa Familia "escraviza" as pessoas. Em tom eleitoral, ele afirmou que é um mito que os governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixaram um grande legado social para o país. Ignora assim que, durante as gestões petistas, 36 milhões de pessoas saíram da miséria.

Rodrigo Maia

“Criar um programa para escravizar as pessoas não é um bom programa social. O programa bom é onde você inclui a pessoa e dá condições para que ela volte à sociedade e possa, com suas próprias pernas, conseguir um emprego. A cidadania é um emprego, a cidadania não é depender do Estado brasileiro”, disse ele em uma palestra no Brazil Institute do Wilson Center, nos Estados Unidos.

Questionado por jornalistas sobre a crítica, ele disse que defende melhorias no programa – elogiado até pela ONU – e que o que escraviza as pessoas no Bolsa Família é a dependência que ele causa.

“Escraviza pela dependência das pessoas. Se você não tem uma porta de saída, você gera uma dependência. Essa dependência atrela as pessoas ao Estado. A alternativa é gerar as condições para que a pessoa deixe de ser dependente do Estado”, insistiu.

Ao contrário do que disse o parlamentar, dados de 2015 mostravam que, em 11 anos de programa, 3.155.201 famílias saíram voluntariamente do Bolsa Família. E, por falar em escravizar, vale lembrar que o governo Michel Temer, apoiado por Maia, reduziu as operações de fiscalização para a erradicação do trabalho escravo e tentou fazer valer uma portaria que claramente dificultava o combate a esta prática. Mas isso é outro assunto, afinal.

As declarações do parlamentar são, na verdade, um retorno às origens, uma inversão na rota da direita, que, nas últimas eleições, vinha alterando o discurso crítico ao programa, com medo de perder popularidade. Maia resgata, então, um posicionamento antigo deste campo, que se referia ao benefício, reconhecido mundialmente, como “bolsa esmola”.

Maior programa de transferência de renda do mundo, e inspiração para diversos outros países, o Bolsa Família passou anos recebendo ataques da direita. Ocorre que as forças retrógradas logo perceberam que o discurso afastava os eleitores, dado o prestígio do programa. Trataram então de mudar de estratégia e passaram diversas campanhas tentando convencer o povo de que não iriam acabar com o benefício, em caso de ganharem nas urnas, vitória que nunca aconteceu.

Nos últimos tempos, o programa havia virado unanimidade. Aécio Neves chegou até a apresentar projeto para torná-lo política de Estado. Mas, depois que o impeachment de Dilma Rousseff, sem crime de responsabilidade, jogou no lixo o voto de 54 milhões de brasileiros, parece que a direita colocou de lado certos pudores. No Brasil pós-golpe, os conservadores deixaram de ter vergonha de expor aquilo que realmente pensam.

Nos Estados Unidos, Maia ainda utilizou outras políticas sociais petistas, como o Minha Casa Minha Vida, para criticar as gestões anteriores. Segundo ele, as pessoas de menor renda apenas ganharam uma casa, sem nenhuma estrutura para lidar com contas como energia e condomínio que nunca haviam pago antes. O presidente da Câmara disse ainda que muitas unidades não têm escolas, postos de saúde nem ligações ao sistema de tratamento de esgoto.

As questões levantadas por Maia devem, então, se agravar com os retrocessos da era Temer, que cortou gastos sociais e investimentos e derrubou o poder de compra do trabalhador. 

Sem falar que, agora, para a população pobre, nem mais a casa própria pode existir. A faixa 1 do Minha Casa Minha Vida, destinada à população de baixa renda, foi praticamente abandonada por Temer. Entre janeiro e outubro do ano passado, apenas 0,5% dos recursos do programa foram destinados a empreendimentos para esse grupo.

Na ofensiva eleitoreira, Maia seguiu sua fala focado na economia. Apontou uma reforma do Estado, o debate das despesas obrigatórias e o chamado Sistema S como grandes temas para o país, além da reforma da Previdência. Ao responder se é candidato, foi direto: “Com um 1% das intenções de votos, não. Se eu chegar a 7%, melhora um pouco”.