Guru de Alckmin, Pérsio Arida foi afastado do BC após escândalo

O coordenador da equipe econômica da campanha do presidenciável Geraldo Alckmin, Pérsio Arida, foi presidente do Banco Central do Brasil (BCB) no governo de Fernando Henrique Cardoso, cargo que exerceu por apenas seis meses, de janeiro a junho de 1995. A passagem pela instituição foi interrompida quando foi acusado de repassar informações privilegiadas sobre a desvalorização do Real para o amigo Fernando Bracher, então presidente do BBA.

pérsio arida

A denúncia foi apresentada na época pelo senador do PT José Eduardo Dutra que conseguiu reunir documentos mostrando que uma visita de Lara a Bracher, saindo de Brasília para São Carlos, interior de São Paulo, antecedeu operações em que o BBA foi beneficiado com a aposta de desvalorização do Real, em detrimento de outros bancos que também operavam câmbio no período.

Na verdade, com ambos morando em São Paulo, a ideia de que se reuniriam em São Carlos para trocar informações não fazia sentido. Mesmo assim provocou nervosismo no mercado, levando ao afastamento de Pérsio.

O economista foi um dos idealizadores do Plano Real, colocado em prática em fevereiro de 1994, no governo de Itamar Franco. Antes disso, em 1984 desenvolveu junto com André Lara Resende a "teoria da inflação inercial", proposta para sair da inflação crônica a partir da criação de uma nova moeda indexada.

Em 1986 a teoria foi transformada no fracassado Plano Cruzado, no governo José Sarney. Na época, Arida disse a imprensa que a proposta não estava errada, o que atrapalhou foi a má interpretação e "condições políticas" que não estavam maduras para o plano. Em tese, o pacote deveria ter sido acompanhada por privatizações, cortes de gastos públicos e abertura da economia e não por congelamento, abono e gatilho salarial, como de fato ocorreu.

Pérsio Arida deu a volta por cima na mancha que o Plano Cruzado deixou a sua imagem quando o Plano Real entrou em circulação, estabilizando a economia e derrubando a inflação. Com o sucesso foi convidado para presidir o BNDES em 1993, cargo que ocupou até o final de 1994, para presidir no ano seguinte o BCB.

A sua passagem no banco público para o desenvolvimento também foi marcada por medidas neoliberais, como relembra o professor do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Nogueira da Costa, no artigo "Pérsio Arida e a Submissão do BNDES à Estratégia Neoliberal", sendo adepto da teoria de que o crédito subsidiado distorce a alocação de recursos e diminui a eficiência da economia.

"Esse é o motivo pelo qual Arida nunca se sensibilizou com os pedidos de financiamento dos adquirentes das companhias que eram privatizadas", comenta o professor. Assim, colegas da linha desenvolvimentista o acusam de ter deixado de considerar, na presidência do BNDES, critérios importantes para o bem estar econômico, como geração de emprego, expansão da cadeia produtiva e desenvolvimento regional.

Em 1982, Arida foi autor de um artigo onde chegou a defender medidas econômicas heterodoxas para solucionar a crise brasileira como diminuição dos juros e aumento de imposto de renda, mas já considerava a racionalização de investimentos públicos como fundamental para solucionar a crise brasileira.

Além da direção de Persio Arida, a equipe econômica para a corrida presidencial de Alckmin terá como consultores os economistas da FGV de São Paulo, Roberto Giannetti e Yoshiaki Nakano.

Opportunity e BTG Pactual

No setor privado, Arida foi membro do Conselho de Administração do Unibanco e diretor da Brasil Warrant e, depois do Plano Real, ocupou por três anos a direção do Opportunity Asset Management do banqueiro Daniel Dantas – preso de depois solto pela Polícia Federal em 2008 acusado pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha. Arida também foi membro por oito anos do Conselho de Administração do Banco Itau.

Em 2008 fundou o Banco BTG junto com o banqueiro André Esteves, preso em 2015 e depois solto por suspeita de planejar obstruir as investigações da Operação Lava Jato. No ano seguinte, eles ampliaram a instituição, recomprando o UBS e formando o BTG Pactual.

Em 2017, o economista deixou o BTG e vendeu suas ações do banco, argumentando que iria se dedicar exclusivamente aos seus "interesses intelectuais".