Bélgica: governo em crise após polêmica com refugiados 

Vários refugiados sudaneses viram impedida a sua entrada na Bélgica. Dois deles teriam sido torturados ao chegarem no Sudão. A pressão para que o ministro da Imigração se demita aumentou e levou o Partido Nacionalista Flamengo, do qual ele faz parte, a garantir que sairá do governo caso ocorra demissão

Theo Francken

O governo belga está à beira do colapso devido a uma polêmica que envolve refugiados do Sudão, cujos pedidos de asilo foram rejeitados e que foram torturados depois de regressarem ao seu país de origem. O responsável pela decisão foi o ministro da imigração, Theo Francken, que pertence ao partido nacionalista flamengo, da Nova Aliança Flamenga (N-VA), um dos três partidos que compõem a coligação governamental liderada por Charles Michel.

Após as primeiras notícias que falavam dos refugiados sudaneses que tiveram a sua entrada na Bélgica impedida e que tinham sido torturados quando chegaram ao seu país natal, depois de repatriados, começaram a surgir os apelos à demissão do ministro. O próprio descartou a saída do executivo e o líder do seu partido avisou que se Theo Francken for demitido os separatistas flamengos saem do governo, provocando a sua queda.

Ao que tudo indica, foram repatriados cerca de 100 refugiados do Sudão. No final de 2017, o jornal belga Het Laatste Nieuws publicou uma entrevista com dois desses sudaneses, na qual garantiam terem sido torturados e espancados durante dias assim que chegaram ao Sudão.

Na sequência do relato, foi ainda noticiado que as autoridades sudanesas estiveram na Bélgica para monitorar e investigar os refugiados que estavam no país europeu ilegalmente. A colaboração entre Bruxelas e o Sudão foi imediatamente condenada por vários partidos e grupos de ativistas. A principal razão é que o presidente sudanês, Omar al-Bashir, é acusado de crimes de guerra e de genocídio por Haia.

Francken garantiu que não irá se demitir, acrescentando que não recebeu qualquer garantia ou prova de que os dois sudaneses tinham sido torturados. No entanto, o ministro belga admitiu que, caso se confirmasse a informação, a situação se tornaria um “grande problema” e anunciou a criação de uma comissão para investigar as denúncias.

Nada disso contribuiu, no entanto, para aliviar a pressão sobre o ministro. No domingo (7), o líder da N-VA, Bart De Wever, fez um pronunciamento sobre o assunto e ameaçou acabar com a coligação governamental: “se for pedido a Theo Franken que se demita, então a N-VA vai sair [do Governo]”. “Sou muito claro quanto a essa assunto. Apoio Theo Francken e não o deixarei cair”, acrescentou em declarações à televisão belga VTM.

Na segunda-feira (8), o primeiro-ministro garantiu durante uma transmissão na televisão belga que não será “ameaçado” por ninguém: “eu não danço a música do N-VA”. “A chantagem não me impressiona, nem ameaças ou provocações”, disse Charles Michel.