Manuela: Desafio é conversar com jovens que aderem a discurso de ódio

A jornal espanhol El Pais publicou, nesta quinta-feira (4), uma entrevista com a deputada estadual Manuela D’Ávila, pré-candidata do PCdoB à presidenta da República em 2018. A parlamentar comunista tem uma preocupação especial com o discurso de ódio que tem atraído parcelas da juventude. Ela considera que seu principal desafio é conversar com os jovens e debater um projeto de desenvolvimento nacional.

Manuela D avila

O atual momento histórico, ainda marcado pela ruptura da ordem democrática em razão do golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff, levou o PCdoB a buscar maior protagonismo na disputa presidencial de 2018. Para Manuela esta é a hora de seu partido apresentar suas próprias ideias, que algumas vezes, ao longo dos anos, divergiram das do PT, ainda que para o público comum a posição dos dois partidos não apresentassem grandes diferenças.

“A gente permaneceu por sete eleições com a candidatura petista. E foi um ciclo importante de mudança para o país. O golpe de 2016 rasgou os compromissos com aquilo que havia sido assumido com a população nas eleições. A partir desta quebra de conjuntura se abre um novo ciclo. E entendemos que era o momento de apresentar um nome próprio”, destaca a parlamentar. “A nossa decisão vem de uma análise do momento que o Brasil vive. Sempre demos um apoio crítico ao PT. Sempre fomos um outro partido, questionando a política macroeconômica, por exemplo. Com este novo ciclo que se abriu achamos que é hora de ter um interlocutor.”

Sobre a unidade das forças de esquerda diante do crescimento da candidata do deputado de extrema-direita Jair Bolsonaro, Manuela acha que o segundo turno deverá unir as forças progressistas. “A gente acha que isso pode se dar no segundo turno. Acreditamos que [no primeiro turno] seria importante ter vários segmentos representados”, diz. 

Manuela rebate a ideia de que esteja contribuindo para a pulverização dos votos progressistas e pondo em risco o desempenho da esquerda na eleição. “Não acredito que corremos este risco. Se ter mais de uma candidatura fosse um problema neste sentido, a direita não teria dez candidatos. Nós, da esquerda, também temos matizes distintos e queremos expor nossas ideias”, ressalta ela, que tem viajado pelo país para ouvir a população e construir um plano de governo, afirma.

Manuela considera que o eleitorado quer avançar nas transformações realizadas por Lula e Dilma e espera atrair os votos do que desejam mais mudanças. “Acredito que podemos atrair a esquerda renovada”, ressalta, explicando que estes são os eleitores que reconhecem as transformações feitas pelos governos petistas, mas querem mudanças. E não acha que o envolvimento com a corrupção de um partido apoiado por tanto tempo pelo PCdoB possa prejudicar sua candidatura. “Tenho 14 anos de vida pública. O que vale é a nossa prática. Minha biografia”, ressalta ela.

De acordo com a última pesquisa Datafolha, Manuela D’Ávila tem boa acolhida entre as mulheres e os jovens. Na juventude, ela tem preocupação muito especial com o discurso de ódio que tem conquistado uma parcela desse segmento. “Sempre olhei com a possibilidade de disputar pessoas que, por razões muito concretas, como o medo da crise, transformam seus discursos em um discurso de ódio. Meu principal desafio é conversar com essas pessoas, esses jovens. Quero apresentar um projeto que discuta isso: que o tema da segurança pública não vai ser resolvido sem política pública. Meu objetivo é fazer um debate para aquilo que serve para 95% da população. E temos que disputar esse tema da violência. Ao mesmo tempo em que discutimos como a gente desenvolve esse país para negros, mulheres, gays e trabalhadores”, diz.

“Me preocupa a existência de uma candidatura que só construa o ódio. [Um candidato] que fale que mulheres merecem ser estupradas”, ressalta ela, citando uma frase de Bolsonaro para a deputada do PT Maria do Rosário (“Jamais iria estuprar você porque você não merece”). Um embate direto com Jair Bolsonaro, que, se colocado, pode levá-la a enfrentar uma gama de defensores fiéis – e muitas vezes agressivos – do deputado ex-militar. Mas ela diz não ter medo. “Já sofri a violência física. Já me atacaram grávida, quando minha filha tinha dois meses no colo. Não tive tempo para ter medo. Sei como eles agem.”