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O Jovem Karl Marx manda um recado à nova geração: a luta é de classes

Estreou na última quinta-feira (28) no Brasil o filme O Jovem Marx, sobre o começo da “carreira” do filósofo alemão autor de O Manifesto Comunista.

Por Mariana Serafini

O Jovem Marx - Divulgação

Do mesmo diretor de “Eu não sou negro”, o haitiano Raoul Peck, o filme é uma superprodução que não deve nada aos estúdios de Hollywood. Justamente isso tem sido alvo de críticas entre especialistas mundo a fora, e também no Brasil. O diretor escolheu o formato clichê do cinema norte-americano para falar sobre a obra do pai do comunismo.

Aclamado pelo público e pela crítica em diversos festivais europeus, certamente a escolha não foi um descuido. Raoul Peck leva à telona, com ares despretensiosos, toda a potência da obra de Marx. A sensação que se tem, ao sair do cinema, é de que devemos imediatamente rever – ou descobrir – todo o legado marxista porque a luta de classes pulsa em 2017 (quase 18) tanto quanto em 1848, quando o Manifesto Comunista foi lançado.

O filme foca nos primeiros anos da vida adulta de Marx e a amizade dele com Friedrich Engels. Apesar do abismo social que os separavam, o desejo por um mundo mais justo e um porre homérico uniu os dois intelectuais que se admiravam antes de se conhecer pessoalmente.

Marx era jornalista e – como nos dias de hoje – raramente recebia seus freelas em dia, justamente por isso vivia com a corda sempre no pescoço ao lado de sua esposa Jenny von Westphalen, uma aristocrata alemã que abandonou o berço de ouro.

Já Engels é retratado no filme como um playboy que sabe pouco, quase nada, sobre os problemas do mundo fora do conforto de seu círculo social, mas questiona o tratamento dado por seu pai aos funcionários das fábricas de tecido que a família possui. Em um destes episódios, se encanta pela firmeza de Mary, uma funcionária que encara o patrão em defesa de mínimos direitos trabalhistas. É ao entrar de cabeça no submundo dos empregados que absorve subsídios para iniciar seus ensaios sociais, a contragosto do pai, obviamente.

Raoul Peck parece fazer questão de destacar a importância destas duas mulheres para obra que nasceria da união de Marx e Engels. Tanto Jenny como Mary Burns são figuras que participam ativamente da vida política de seus maridos. Elas não só frequentam reuniões como opinam e até ajudam a transcrever os textos dos dois. Ambas tiveram papel fundamental no processo de produção do Manifesto Comunista, por exemplo.

Crise na Inglaterra, disputas de poder entre a esquerda, as diversas correntes de pensamento da época, os intelectuais de destaque, bares, cafés, a boemia londrina, tudo isso está muito bem retratado na obra de Peck. O diretor mostra a efervescência política de onde surgiu o maior pensador comunista dos séculos 19 e 20. E mais que isso, deixa claro porque foi esta corrente ideológica que “venceu” diante das demais e como o movimento comunista se consolidou.

O retrato de época dialoga perfeitamente com os dias de hoje. Nos mostra que a obra de Marx está viva, atualíssima e pode dar respostas à crise política e humanitária do século 21. Hoje outro espectro ronda a Europa, não o do comunismo, infelizmente. Cabe à nossa geração mergulhar no legado marxista e só voltar à superfície com novos caminhos traçados para as batalhas atuais.

A luta de classes pulsa diante de nossos olhos num mundo que permite a livre circulação de dinheiro, de produtos, mas não de pessoas. Neste contexto onde a desvalorização do trabalho e o ataque aos direitos conquistados assola diversos países, o grito “trabalhadores, uni-vos” faz mais sentido que nunca.

Assista ao trailer: