Centenas de escritores peruanos rechaçam perdão a Fujimori

Mais de 230 escritores peruanos participaram de um ato político na última sexta-feira (29) para expressar seu rechaço "à conduta irresponsável e ilegal" do presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, pelo perdão outorgado às vésperas de Natal ao ex-ditador Alberto Fujimori. Os intelectuais firmaram um documento contra a medida e pedem revogação da decisão, entre eles está o prêmio Nobel de Literatura, Álvaro Vargas Llosa.

Alberto Fujimori - Divulgação

No documento enviado ao presidente, os escritores afirmam que "Fujimori foi condenado por violação de direitos humanos e corrupção. Foi responsável por um golpe de Estado, assim como pelo desmantelamento da institucionalidade do país. Seu indulto demonstra o pouco apreço pela dignidade, igualdade diante da lei, e o direito à memória".

Para os intelectuais, o gesto de Kuczynski "cobre o país de infâmia e vergonha". Eles acusam ainda o presidente de se aproveitar do período festivo do final do ano para dar perdão a um "criminoso de lesa humanidade", o que consideram uma manobra que delata "o mais cru e cínico cálculo político".

Ainda no documento afirmam que a medida de Kuczynski reflete um pacto de conveniência entre as forças políticas em controlar os efeitos dos casos de corrupção em que estão envolvidos, além de perpetuar a injustiça e a impunidade.

Os escritores pedem a renúncia do presidente por considerar que dar perdão ao ditador condenado por crimes de lesa humanidade é "incompatível com o Estado de Direito e os valores democráticos" do Peru.

O indulto

Às vésperas do natal, no dia 24 de dezembro, o presidente do Peru outorgou indulto humanitário a Alberto Fujimori por considerar que o ex-ditador, agora preso, padece de uma série de enfermidades e a permanência na prisão poderia agravar seu quadro clínico. Organizações sociais e ativistas dos direitos humanos refutam esta versão e acusam Kuczynski de manobra política.

O ditador nipo-peruano cumpre uma pena de 25 anos de prisão imposta em 2009 pela justiça do país. Ele é acusado de, durante seu mandato presidencial (1990 – 2000), violar os direitos humanos, se envolver em casos graves de corrupção e desvio de verbas públicas.

Durante os dez anos que permaneceu na presidência do Peru, Fujimori dissolveu o Congresso, se envolveu em grandes esquemas de desvio de verba e colocou em prática um plano perverso de esterilização química de milhares de mulheres indígenas para evitar o crescimento de povos originários no país. Ao ser encurralado devido a estes crimes, o então presidente fugiu para o Japão, onde renunciou ao cargo e pediu asilo político.