Sobre Dilma, golpe, achaques, Cunhas e Fujimoris

O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski assinou o indulto de natal de Fujimori. Perdoou um corrupto condenado por crime contra a humanidade. A filha de Fujimori, deputada federal, trabalhou contra o impeachment de PPK e ele foi mantido no cargo. Agora, livre da acusação de corrupção com a Odebrecht, o presidente prega a união nacional e pede que a vida siga em frente.

Por Renan Araujo*

Michel Temer e Eduardo Cunha

Dilma teve sua possibilidade de livrar-se do impeachment, também. Poderia "indultar" a quadrilha de Temer, Cunha, Aécio e companhia. Sofreu pressões, sofreu chantagens, sofreu achaques.

Imagino o que não foram os últimos meses de Dilma no poder. Recados, propostas, manobras. Poderia ter salvado Cunha. Poderia ter "estancado a sangria", poderia ter barrado "essa porra". Certamente seria "com o supremo e tudo".

A partir dai estaria mais fraca ainda. Faria o discurso dos vencedores, mas estaria vencida. Possivelmente Aécio, com sua "grandeza e espirito republicano", lhe propusesse o gesto de "união pela reconstrução do Brasil". Cunha seria ministro, Temer acumularia mais poderes e Dilma cumpriria seu mandato sendo o que ela nunca desejara ser.

Fim do Pré-Sal, corte nos investimentos em saúde e educação, reformas impopulares estariam no pacote de acordos.

Ao final do governo, Dilma estaria tão desgastada que o caminho eleitoral estaria aberto para as quadrilhas ganhassem o poder através do voto.

Mas Dilma resistiu. Não cedeu, foi altiva, corajosa, altaneira. Num determinado momento ela desabafou: não ficará pedra sobre pedra!

Agora assistimos Aécio, Cunha, Globo, Temer, lavajato, Dallagnol, Geddel, tucanos, democratas e emedebistas caindo na mais completa desgraça política.

E a caça a Lula, percebida pelo povo, que cada vez mais lhe quer livre para disputar as próximas eleições.

Dilma não assinou o indulto que mancharia sua biografia. Não suicidou-se como Getúlio, mas expôs as aves de rapina aos olhos de todos.

Dilma nos mostrou o caminho da saída honrada. Não seremos um Peru envergonhado de Fujimori livre. Não seremos um Brasil de milhões de Cunhas.

Seremos um Brasil de Dilmas, de Lulas, de Manus, de Requiãos, de Boulos, de mulheres e homens livres soberanos e orgulhosos do seu país.

O golpe foi só um acidente de percurso.

Dilma sabia disso. Castelo de cartas não resiste aos ventos da democracia.