Eleições estranhas na Catalunha 

As eleições autônomas dessa quinta-feira (21) na Catalunha ficaram marcadas por diversas "peculiaridades". Depois de Rajoy ter dissolvido o Parlamento, destituído o governo regional e imposto uma ministra do governo central na presidência do Generalitat, tudo seguindo o artigo 155

eleições na catalunha

Mais de 5,5 milhões de eleitores podem participar nas eleições que estão acontecendo na Catalunha, agendadas pelo primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, pouco tempo depois de ter aplicado – pela primeira vez desde o fim da ditadura franquista – o artigo 155.º da Constituição espanhola e posto a autonomia do território sob controle do poder central.

No mesmo dia – 27 de Outubro – em que o Parlament aprovou a declaração constitutiva da "República catalã como Estado independente e soberano, de direito, democrático e social", o Senado espanhol liberou o caminho para que Rajoy aplicasse o artigo 155.º contra a Catalunha, no qual o governo destituiu o presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, e todos os membros do seu executivo, além de dissolver o Parlamento regional.

Nos últimos dois meses a presidência do governo catalão foi assumida por Soraya Sáenz de Santamaría, vice-presidente do governo espanhol, que apostava em "decapitar a liderança dos partidos independentistas". Já Puigdemont exilou-se na Bélgica, juntamente com alguns membros do seu executivo, sob ameaça de prisão caso regresse ao Estado espanhol, e é da Bélgica que se candidata pela coligação Juntos pela Catalunha (JuntsxCat).

Também Oriol Junqueras, vice-presidente do governo autônomo destituído, se candidatou à distância – como líder da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) –, no seu caso por se encontrar na prisão.

Junqueras, Puidgemont e todos os demais membros do anterior governo – em liberdade condicional ou na cadeia – são acusados rebelião, sedição e manipulação no âmbito do processo que conduziu à declaração unilateral de independência de 27 de Outubro de 2017.

Para o independentismo, um plebiscito

Nessas eleições de quinta-feira (21), impostas por Madrid, marcadas pela aplicação do artigo 155.º e pela existência de candidatos presos e exilados, concorrem basicamente dois blocos: o independentista e o espanhol.

Pelo lado soberanista catalão, a aposta é vencer as eleições consideradas ilegítimas e que foram convocadas pelo governo central com o claro propósito de bloquear a vontade independentista. Por isso mesmo, a "jogada" foi aplaudida pelo Partido Popular, pelo Ciudadãos e pelo Partido Socialista da Catalunha (PSC).

Assim, as eleições de hoje assumem, de certo modo, um caráter de plebiscito – depois do 1º de outubro, cujos resultados a direita espanhola (e não só) se recusou a reconhecer –, e, para os partidos que defendem a independência da Catalunha, é fundamental manter ou reforçar a votação obtida em setembro de 2015.

A Esquerda Unida colocou-se contra a separação mas a favor de um Estado Plurinacional, além de denúnciar os abusos por parte do governo central e relembrar a importância de ouvir as insatisfações dos catalães. 

Mídia

Nos últimos meses, o Estado espanhol e os meios de comunicação dominante argumentaram contra as pretensões separatistas da Catalunha, lembrando constantemente os malefícios de uma eventual independência do território e a sua fragilização econômica nesse contexto, e promovendo, de forma clara, a figura de Inés Arrimadas como cara do nacionalismo espanhol, pelo partido Cidadãos e contra o independentismo.