Manuela: Diminuição do Estado numa sociedade machista é punir as mulheres

Em um artigo publicado no blog #AgoraÉQueSãoElas, nesta quinta-feira (14), num especial sobre a violência contra a mulher na política, a deputada estadual Manuela D'Àvila (RS), responde a indagação dos motivos que ela, enquanto mulher, decidiu aceitar o desafio de ser pré-candidata à Presidência da República pelo PCdoB.

Manuela Parlamentarismo - Reprodução

"E percebi que tudo o que eu havia ponderado estava relacionado com o fato de eu ser mulher. Sim, pensei muito nisso. Pensei em todas as formas de violência política de gênero que já sofri, nos últimos 19 anos, e se estava disposta a encarar tudo isso numa potência muito mais elevada", contou Manuela.

Ela relata que, com a sua trajetória política como militante do partido desde os seus 17 anos, a pré-candidatura é um desafio e uma honra por levar adiante as bandeiras da sigla num processo eleitoral emblemático.

Mas ela também aponta as motivações pessoais, como a sua filha Laura, de apenas dois anos. "Todo o tempo pensei em minha filha Laura, que ainda é amamentada. Nós somos muito parceiras uma da outra, consegui incorporá-la na rotina de deputada estadual completamente. Mas quais serão as condições adversas para levá-la comigo aos longínquos roteiros?", revelou Manuela.

Segundo a pré-candidata, uma das preocupações que tem ao percorrer o caminho da disputa eleitoral é a violência física.

"Pensei na violência física que ambas [ela e a filha] já sofremos pelo simples fato de eu ter opiniões. Não ignoro que 2018 será uma disputa daqueles que organizam o ódio e o medo contra nós que queremos encontrar saídas para a crise brasileira", apontou.

Alvo constante de ataques nas redes sociais, Manuela afirma que pensou também nas "montagens virtuais asquerosas que já fizeram e farão com meu marido e enteado".

"Pensei em quão doído é, para nós mulheres, esse envolvimento que os adversários fazem de nossas famílias nas disputas eleitorais. Acaso alguém já viu esse tipo de trucagem com as esposas e filhos dos homens que concorrem?", indagou.

Ela segue pedido aos leitores que reflitam como seria o tratamento dado pela imprensa e alguns setores da sociedade a um pré-candidato homem que, aos 36, já estivesse em seu quarto mandato parlamentar e tivesse sido em todas as eleições o mais votado.

"Imaginaram? Agora imaginem que essa é a minha história, mas que a minha valoração sempre foi a partir da aparência. Pensei se estava disposta novamente a ver fóruns e mais fóruns de discussão sobre meu peso. Logo eu, que tenho transtorno de imagem, como milhares de mulheres no mundo", denuncia, citando uma das primeiras matérias publicadas sobre a sua pré-candidatura que abordava tom da cor de seus cabelos.

"Por que eu estava pintando de castanho? Por que não mais loiro? Estratégia política, disseram. Pra que abordarem meu discurso sobre indústria 4.0 e a necessidade do Estado para as mulheres? Respondi irônica: ficar loira cansa. Estou naturalmente morena grisalha. Aguardo matérias sobre cabelos de Doria, Alckmin e Ciro", rebateu.

Saindo do campo individual, Manuela destaca que a principal tarefa de sua pré-candidatura é debater as saídas para crise brasileira também sob a perspectiva de gênero.

"Falar para as mulheres brasileiras que atentem, pois a diminuição do Estado numa sociedade machista é uma punição a mais pra nós, mulheres. Falar em todos os espaços que reforma trabalhista é ainda mais cruel com as mulheres trabalhadoras. Nós somos parte essencial da construção de um Brasil diferente!", frisou.

Além disso, Manuela afirma que um movimento feminista revigorado será capaz de combater as desigualdades e injustiças.

"Uma roda de sororidade, de empatia. Um grau de relacionamento muito mais solidário entre a maior parte das mulheres que fazem política. Uma identidade mais nítida do que nos une. Sei que conto com milhares de mulheres que, mesmo não concordando com minhas ideias, são minhas parceiras na luta contra a violência política de gênero. “Tamo” juntas!", finalizou.