Operação Ouro Verde atinge políticos e empresários de Campinas

No dia 30/11, o Ministério Público e a PM deram início à operação Ouro Verde que apura possível desvio de recursos públicos da saúde. Foram cumpridos 33 mandados de busca e apreensão e de prisão em todo o estado. Em Campinas, os agentes foram ao Hospital Municipal Ouro Verde, à Prefeitura e em residências de possíveis envolvidos. O hospital é administrado pela organização não governamental Vitale, cujos membros estão sendo investigados por possível desvio de recursos de mais de R$ 4 milhões.

CPI - Rogério Capela/PMC

A denúncia é que a Prefeitura repassava o dinheiro para o hospital, administrado pela Vitale, e o grupo desviava os recursos públicos por meio de consultorias que nunca aconteciam. Todos os denunciados têm negado os desvios ou sua participação no caso.

Em áudio divulgado na segunda-feira (11) o empresário da comunicação de Campinas, Sylvino de Godoy Neto, conversa com Ronaldo Foloni, diretor da ONG. Ele diz que falou com Silvio Bernardin, secretário Assuntos Jurídicos, intercedendo em favor de um aditamento ao contrato de prestação de serviços para aumentar o valor do repasse da prefeitura. Sylvino também afirma que conversou com o prefeito Jonas Donizette (PSB) sobre o assunto, e que o prefeito teria lhe dito que “até o final de novembro, ele deve estar com uma situação melhor de caixa”, o que poderia viabilizar o aditamento. A ligação foi feita do celular de Gustavo Khattar de Godoy, filho de Sylvino, que estava grampeado. Gustavo também está sendo investigado. Sua empresa presta serviços à Vitale, no hospital.

No dia 12, foi divulgada nova conversa de Sylvino. Na gravação, feita em 30/11, o empresário tentar convencer o diretor de Jornalismo da rádio CBN/Campinas, Marco Massiarelli, a não divulgar o nome de Gustavo nas reportagens da rádio, pois considera que ele está apenas sendo investigado e vai provar que é inocente. O jornalista não aceita acatar o procedimento e afirma que as reportagens são feitas com base nas informações do MP.

Também no dia 12, foi divulgada uma conversa entre uma assessora do deputado federal, Luiz Lauro Filho (PSB), sobrinho de Jonas, e o diretor da Vitale, Fernando Vitor Torres Nogueira Franco. Na conversa, a assessora pede para o hospital “acolher um caso” da Unidade de Pronto Atendimento de Sumaré. Em resposta, o empresário pede que o deputado ajude a ONG a conseguir administrar a UPA.

Desde abril, 25 pessoas estão com seus telefones grampeados, dentre elas, Bernardin e o líder do governo da Câmara, vereador Marcos Bernardelli (PSDB). O prefeito também está sendo investigado pela Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) por ter seu nome citado nas conversas.

Os empresários Fernando Vitor Torres Nogueira Franco, Daniel e Paulo Câmara, Aparecida Bertoncello, Ronaldo Foloni e Ronaldo Pasquarelli, tiveram sua prisão preventiva decretada e estão presos. Três funcionários públicos investigados pelo MP foram exonerados de seus cargos, Anésio Corat Júnior, Ramon Luciano Silva e Maurício Rosa.

Discussão na Câmara

Dois pedidos com o mesmo objetivo, abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as denúncias, as chamadas CPI da Saúde, circulam na Câmara Municipal. Um encabeçado pelo vereador Pedro Tourinho (PT) e outro pelo vereador Tenente Santini (PSD). O primeiro tem o apoio de oito parlamentares e o segundo, de sete. São necessárias onze assinaturas para um dos pedidos ser acatado. A busca de assinaturas pela CPI tem encontrado resistência entre os vereadores que apoiam o governo.

Porém, as denúncias já levaram ao primeiro racha na base de apoio a Jonas na Câmara. O vereador Cidão Santos (PROS) anunciou na sessão de quarta (13) que está deixando o governo e vai adotar uma postura independente. Com isso, ele se junta aos vereadores Gustavo Petta (PCdoB), Pedro Tourinho (PT), Carlão Santos (PT), Nelson Hosri (Podemos), Tenente Santini (PSD), Marcelo Silva (PSD) e à vereadora Mariana Conti (Psol).

A Câmara também criou uma Comissão Mista para investigar o convênio entre a Vitale e o Hospital Municipal Ouro Verde. Composta pelos membros da Comissão de Política Social e Saúde e da Comissão de Representação ela não tem o poder de convocar pessoas para depor; pode apenas solicitar acesso aos documentos produzidos pelo MP, pedir documentos à prefeitura e acompanhar o caso. A comissão está sendo considerada como “chapa branca”, pois apenas um de seus membros é da oposição ao governo municipal.

O vereador Gustavo Petta (PCdoB) cobra uma investigação rigorosa do caso e critica a comissão mista. “Essa comissão é uma vergonha, assim como é uma vergonha a Câmara abrir mão de uma de suas prerrogativas mais importantes – a CPI – para investigar o caso de desvio de recursos públicos do Hospital Ouro Verde. Só uma CPI poderia fazer uma investigação de verdade. A comissão que eles propõem é uma farsa, um teatro para enganar os desavisados, uma cortina de fumaça. Eles não vão apurar nada! CPI Já!”, exige o vereador.