Tempos tenebrosos para a universidade brasileira

Na história da luta do povo brasileiro, a universidade sempre fora um foco de resistência contra os ataques das elites que por tantas vezes já atacaram nossos direitos e liberdades ou tentaram vender nossos patrimônios e acabar com a soberania de nosso país.

Por Iago Montalvão*

UFMG - Divulgação

Mas a universidade tem muito mais além a oferecer, é onde se produz a pesquisa e a inovação tecnológica, elementos necessários pro progresso e desenvolvimento das forças produtivas e dos serviços no nosso país, que vão desde as técnicas pra plantio e extração de matérias primas, até a produção de materiais com valor agregado e tecnologia, até questões ligadas à saúde, meio-ambiente, formação humana, e tantos outros avanços necessários para a consolidação de um país e uma sociedade verdadeiramente desenvolvida e igualitária.

Talvez justamente por isso sempre foram também foco de ataques das elites econômicas e políticas do país, visto que seriam essas instituições uma verdadeira ameaça à sua manutenção no establishment e na conservação do status quo tal como existe no sistema capitalista e propriamente na sociedade brasileira, historicamente marcada por uma forte dominação de elites estrangeiras e de oligopólios locais que servem a esses interesses externos. Sem a universidade, e toda produção intelectual que ela proporciona, seja para desenvolvimento das forças produtivas, o que contribui para a independência e soberania econômica (e consequentemente política) do país, ou seja para a emancipação crítica e humana de nossa população, se torna mais fácil para que as elites estrangeiras mantenham o Brasil numa condição de neo-colônia disfarçada de “país emergente”.

Além desses pressupostos para os ataques às nossas instituições de educação superior, a expansão da iniciativa privada nessa área trouxe a tona uma série de novas problemáticas para os estudantes brasileiros. Problemas com a falta de qualidade, o desrespeito aos direitos estudantis, falta de assistência, más condições de trabalhos para os professores, aumentos abusivos de mensalidade e tantas outras questões tem sido enfrentadas cotidianamente nas universidades particulares, especialmente as geridas pelos grandes conglomerados privados de educação ou pelas pequenas faculdades privadas. E como se não bastassem todas essas complicações, com a nova Reforma Trabalhista, a rede de universidades particulares Estácio, já está demitindo centenas de professores para recontratá-los sob novas regras trabalhistas e com menores salários, expondo a qualidade do ensino à precarização das relações de trabalho nas salas de aula.

Nas universidades federais os últimos fatos que representam simbolicamente essa ofensiva às instituições públicas de educação superior ocorreram na UFSC, com a perseguição política por parte da Justiça e da Polícia Federal do ex-reitor Prof. Luiz Cancellier, que levou a seu suicídio sem que comprovassem qualquer tipo de culpa, e na UFMG, na última semana, com novos mandatos de busca e apreensão e condução coercitiva, que repetiram atos repudiáveis de espetacularização das operações policiais que tem menos o objetivo de investigar, e mais o de criar tramas midiáticas com um pretenso combate a corrupção, mas que na verdade tenta desarticular e rebaixar a imagem de nossas universidades para que se tornem mais aptas na sociedade as ideias de privatização.

Entre os ataques sofridos na UFSC e na UFMG, curiosamente surgiu um relatório do Banco Mundial – um dos grandes agentes do capitalismo e neo-liberalismo global – que propõe a cobrança de mensalidade nas universidades públicas brasileiras, sob argumentos extremamente frágeis e que desvalorizam as características locais e a importância de que todo conhecimento produzido nessa universidade sirva a todo povo brasileiro. As ações da justiça e da Polícia Federal, que já tem demonstrado na Operação Lava-Jato por exemplo sua inclinação à determinados tipos de comportamento que ferem o devido processo legal e o estado democrático de direito, devem ser compreendidas em seu enviesamento com essas propostas privatizantes e neo-liberais, que tentam se aproveitar da recessão e do momento político frágil no país para implementar seus modelos.

É preciso resistir. Resistir pelo direito de que a juventude e a população em geral tenha acesso à educação superior com qualidade. Resistir para que a universidade brasileira se mantenha firme na produção de conhecimento, pesquisa, tecnologia e inovação, que estejam a serviço de nosso pleno desenvolvimento com soberania e independência e para a emancipação do nosso povo, garantindo que a partir desses elementos possamos ter um país cada vez melhor. Resistir em defesa da democracia, valor sempre tão prezado por professores e estudantes destacados na luta pelas liberdades. Resistir contra as retiradas de direitos dos nossos professores, nos retrocessos aos direitos trabalhistas e nas manobras dos grandes empresários em tentar aumentar lucros com a redução de salários e da qualidade do ensino. Nunca em um período democrático do nosso país vivemos abusos e excessos tão execráveis nas nossas universidades como vivemos hoje, isso deve acender um alerta a todos que defendemos a democracia.