Suicídio de reitor da UFSC deixa PF sob suspeita

O suicídio do agora ex-reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier de Olivo completou dois meses no último sábado (02). Ministério da Justiça manda apurar atuação de delegada que pediu prisão de professor da UFSC em operação de desvios de recursos

Luiz Carlos Cancellier de Olivo - Reprodução do portal GGN

O reitor Cancellier havia sido preso pela PF, na Operação Ouvidos Moucos, em setembro, e estava sendo investigado, sem saber, pela delegada Érika Mialik Marena; Cancellier era suspeito de uma suposta tentativa de obstruir uma investigação sobre desvios no programa de educação a distância; após depor na PF, ele, sem que alguém tenha dito o motivo de sua prisão, foi levado para a penitenciária de Florianópolis; reclusão foi repudiada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e pelo site Jornalistas Livres.

O reitor, que não tinha antecedente criminal algum, era suspeito de uma suposta tentativa de obstruir uma investigação sobre desvios no programa de educação a distância. A denúncia foi feita, principalmente, por um desafeto do reitor, o corregedor-geral da UFSC, Rodolfo Hickel do Prado, integrante da Advocacia-Geral da União em Santa Catarina.

No dia seguinte à prisão dele, a PF manchetou, em seu site, o erro de que a operação combatia "desvio de mais de R$ 80 milhões", conforme atesta matéria do Estadão. Ainda segundo a reportagem, após depor na PF, o reitor, sem que alguém tenha explicado o motivo de sua prisão, foi levado para a penitenciária de Florianópolis, como se já estivesse condenado. Teve os pés acorrentados, as mãos algemadas e foi submetido, nu, à revista íntima. Ele passou mal pro ser cardiopata, e foi examinado e medicado por seu cardiologista.

Posteriormente, a delegada afirmou que os R$ 80 milhões era o total de repasses do Ministério da Educação para o programa de ensino a distância ao longo de dez anos, 2005 a 2015, quando Cancellier não era o reitor. Ele assumiu a reitoria a partir de maio de 2016.

Depois da prisão, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) divulgou nota afirmando ser "inadmissível que o país continue tolerando práticas de um Estado policial" e o Núcleo da União da Juventude Socialista na UFSC fala em "perseguição política".

Site Jornalistas Livres também repudiou a ação da PF. "Trata-se de suicídio que cobre de vergonha todo o país, que consagrou como métodos de investigação a deduragem, a humilhação pública e a prisão estrepitosa, sob os holofotes de uma mídia linchadora e vulgar", escreve Laura Capriglione.

Vale ressaltar que o denunciante, Rodolfo Hickel do Prado, era opositor político do reitor. No dia 13 de setembro, um dia antes da prisão, Cancellier autorizou seu chefe de gabinete, Aureo Moraes, a abrir um processo administrativo-disciplinar contra o corregedor, pedido pelo professor Gerson Rizzatti. Prado tentou uma liminar contra a portaria que o afastava até a conclusão, mas não teve êxito.

Na última terça-feira, o juiz Marcelo Volpato de Souza mandou arquivar o inquérito que apurou a morte do reitor, concluindo por suicídio.

No despacho, o juiz cita trechos do parecer do promotor Andrey Cunha Amorim, da 37.ª Promotoria de Justiça da Capital. Diz Amorim: “(…) dias antes do seu suicídio, a vítima foi presa provisoriamente, permaneceu encarcerada por um ou dois dias e teve sua prisão revogada judicialmente. Do ponto de vista psíquico, tais fatos, evidentemente, podem ter contribuído para o agravamento do quadro de depressão do ofendido, levando-o ao ato extremo de ceifar a sua própria vida”.