Grande manifestação em Buenos Aires em defesa de direitos

Sob o lema "não é reforma, é ajuste. Basta!", milhares de trabalhadores deixaram clara, na quarta-feira (29), a sua oposição aos projetos de reforma trabalhista, tributária e da aposentadoria promovidas pelo governo Macri. Os últimos dois começaram ontem a ser debatidos no Congresso Nacional

manifestação em Buenos Aires

Operários, professores, médicos e funcionários bancários – cerca de 300 mil pessoas, de acordo com a imprensa – juntaram-se ontem no centro da capital argentina, na Praça do Congresso, para ali deixar claro o seu "não absoluto e coletivo" às reformas que a administração de Mauricio Macri está promovendo.

Foi uma jornada de luta que se alastrou a outros pontos do país, como na praça do Parlamento, as bandeiras nacionais e de vários sindicatos, inúmeras faixas e cartazes, sempre acompanhados pelo rufar dos tambores, indica a Prensa Latina.

A mobilização, convocada pela Corrente Federal, o setor dos Caminhoneiros e as duas Centrais de Trabalhadores da Argentina (CTA e CTA Autónoma), contou com a adesão dos sindicatos de docentes – sendo que a Confederação de Trabalhadores da Educação da República Argentina (Ctera) agendou para ontem uma paralisação a nível nacional – e de inúmeras organizações sociais, de que são exemplo a Corrente Classista e Combativa, a Frente Darío Santillán, as cooperativas de trabalhadores, associações de bairro e organizações de mulheres.

Muro de resistência à política de ajuste

Ao tomar a palavra no palco montado nas escadarias do Congresso, Sergio Palazzo, dirigente da Associação Bancária e da Corrente Federal dos Trabalhadores (CFT), sublinhou que a manifestação representava o "começo da construção de um muro de resistência à política de ajuste" e que a presença dos milhares de trabalhadores à porta do Parlamento era para "dizer sem eufemismos" que repudiam as reformas trabalhista, tributária e da aposentadoria.

"Viemos dizer-lhes que repudiamos o ataque aos direitos dos trabalhadores, o subfinanciamento da Segurança Social e, naturalmente, a atitude insensível e desumana que representa a diminuição do poder de compra dos pensionistas», disse Palazzo, dirigindo-se aos senadores.

"Saibam que, quando levantarem a mão, com a outra vão estar a tirar o prato de comida de muitos camaradas que chegam ao fim do mês com dificuldades, para o dar aos ricos em impostos que não vão pagar", alertou.

O secretário-geral da CTA, Hugo Yasky, acusou o governo de "querer um país sem sindicatos", mas sublinhando que estes "não vão desaparecer" e que, inclusive, "vai haver mais organização sindical". Tal como Pablo Micheli, da CTA Autônoma, reforçou a necessidade de "maior unidade".

Travar ofensiva de Macri contra trabalhadores e aposentados

Os projetos de reforma agora promovidos e já em discussão não inauguram a ofensiva neoliberal de Macri contra os trabalhadores argentinos. Os últimos dois anos foram marcados por cortes orçamentais nas áreas sociais, aumentos dos preços de bens essenciais, demissões e diminuição dos salários. Este período, também sinônimo de aumento da pobreza e da desigualdade social, ficou marcado pelo crescimento da luta dos trabalhadores, no setor público e privado.

Mas o que vem ai possui uma gravidade maior, como se encarregou de explicar Sergio Palazzo na mobilização de ontem em Buenos Aires: "se algum camarada diz que não estão mexendo nos direitos dos trabalhadores, engana-se e confunde os demais", disse, citado pelo diário Página 12.

Em causa estão o aprofundamento da flexibilização do trabalho, o subfinanciamento do Estado, a redução de salários e pensões, a redução do valor das indenizações por demissão ou o não pagamento de horas extras – medidas que o governo argentino defende como forma de reduzir os custos com o trabalho e, dessa forma, atrair maior investimento estrangeiro.

Reforma trabalhista: ataque contra direitos

Em declarações recentes à TeleSur, Luis Campos, da CTA Autônoma, afirmou que a reforma "é muito mais que uma série de alterações às leis trabalhistas. Estamos frente a uma verdadeira tentativa de fixar as bases para uma mudança de paradigma nas relações do trabalho, que, em uma perspectiva mais ampla, constitui um aprofundamento da ofensiva ininterrupta do capital contra o trabalho iniciada no nosso país em meados dos anos 70".

Mariano Pasi, também delegado da CTA Autônoma, sublinhou que "as reformas promovidas pelo governo a nível tributário, nas aposentadorias e de precarização do trabalho constituem um ataque feroz contra o conjunto de direitos que o nosso povo conquistou ao longo de décadas de luta".