Sindicalista diz que é oportunismo político PSDB falar em dobrar renda

“O PSDB tem no histórico a votação pela contenção dos gastos públicos, privatização, flexibilização trabalhista. O PSDB votou a favor da reforma trabalhista, que vai rebaixar a renda, terceirização, teto de gastos. Agora quer dobrar a renda?”, questionou Marcelino da Rocha, presidente da Federação de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal), em entrevista ao Portal Vermelho nesta quarta-feira (29). 

Por Railídia Carvalho

Marcelino da Rocha, presidente da Fitmetal - André Cintra

O dirigente analisou o programa do PSDB para 2018, divulgado nesta terça-feira (28), e que defende, entre outras propostas, que é “factível, viável e necessário” dobrar a renda per capita no Brasil nos próximos 20 anos. "É oportunismo político diante de tanta agressão que a sociedade brasileira vem sofrendo falar em recuperar a renda do trabalhador com a política atual que o PSDB é ator principal", criticou Marcelino.

O economista Guilherme de Melo em entrevista ao Vermelho na terça afirmou que concretizar essa proposta depende da retomada do crescimento porém a aposta no setor privado, feita pelo PSDB nos anos 90 e agora, não deu certo à época e “não inspira otimismo” hoje.

Para o presidente da Fitmetal, a visão de estado mínimo que predomina no PSDB é contraditória com o que defendem atualmente os trabalhadores, que é o desenvolvimento da indústria para retomar o crescimento com distribuição de renda e geração de emprego. "É só recuperar a política em relação ao salário mínimo dos oito anos de governo FHC. O salário mínimo não atingia cem dólares. É a prova cabal que o PSDB está longe de ter um projeto nacional de desenvolvimento para o pais", enfatizou Marcelino.

Diretor-técnico do Departamento Intersindical de estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), Clemente Ganz, afirmou que para dobrar a renda média no Brasil é necessário uma estratégia de reindustrialização. “A capacidade de dobrar a renda em uma sociedade como a brasileira precisa considerar como um vetor importante a base industrial. É esse setor que difunde tecnologia, inovação, coisas que no setor de serviços gera a capacidade de dobrar a renda média.”

Clemente também questionou a política de contenção de gastos do governo de Michel Temer, a Emenda Constitucional do teto de gastos, que congelou por 20 anos recursos públicos e os cortes nas políticas de transferências de renda. “Vai dobrar a renda com a política de corte de gastos ou vai ter que reverter a lei aprovada por eles mesmos?”, ironizou.

“Qualquer pais que alcançou dobrar a renda média tinha por trás um estado forte e uma indústria também muito forte. Dobrar renda média significa desconcentrar aí precisa estar incluída uma política de valorização do salário mínimo, diminuir desigualdade nos salários entre homens e mulheres e fortalecer as políticas de transferência de renda. O que assistimos até agora com reforma trabalhista, por exemplo, é o fim do sistema de proteção e o aumento da desigualdade”, analisou Clemente.

Marcelino ainda lembrou que nunca se privatizou tanto ou se “doou” tanta empresa estratégica para a economia do Brasil quanto nos governos de Fernando Henrique. “Eles querem entregar o setor de energia, gás e petróleo. O que poderia aumentar a renda, render trilhões ao Brasil está sendo doado por milhões. Defendemos o Estado como indutor do desenvolvimento, o que é diferente do que pensaquem está no governo hoje, inclusive o PSDB”, denunciou o dirigente.

A política brasileira sob o governo Temer com o aval do PSDB caminha na contramão do mundo, afirmou Marcelino. “Em outros países estão reestatizando e o Estado investindo para preservar empregos como foi o caso da recuperação da GM por Barack Obama, os franceses que estatizaram os estaleiros mas aqui no Brasil é o contrário”, disse. Clemente também não vê perspectivas de recuperação se esperar que a solução seja o capital internacional. “O que for gerado aqui não ficará aqui agregando valor mas será levado pra fora”, comparou.

A Fitmetal tem realizado um ciclo de debates pelo Brasil debatendo saídas para a crise na indústria brasileira. Na opinião de Marcelino, o desafio dos grupos que defendem uma política de industrialização para o Brasil é formar uma frente ampla em torno das ideias comuns. “Temos pelo menos quatro projetos de desenvolvimento que precisam se comunicar entre si. Tem parlamentares, entidades sindicais, setores do empresariado preocupados em concretizar uma proposta que retome a industrialização. Para isso o Estado precisa ter papel fundamental. Um primeiro passo seria a retomada das obras públicas pelo Estado, o que aqueceria a economia”, defendeu Marcelino.