Fidel: tudo que é bom não chega ao fim, se espalha no ar

Fidel é uma das personagens da história que viverá para sempre, pelo conjunto de sua obra, marcado por emblemáticos episódios, sendo os mais conhecidos, a tentativa de tomada do quartel de Moncada; o quase aniquilamento da expedição do Granma no desembarque em Cuba; o início da guerrilha em Sierra Maestra com os poucos guerrilheiros que sobreviveram ao desembarque; a gloriosa vitória do Movimento 26 de Julho sobre uma ditadura sanguinária e;  a fracassada invasão imperialista em Playa Giron.

Fidel Castro

 Claudio Machado*

Em 2019, a revolução cubana completará 60 anos, a maioria desses gloriosos anos sob o infame bloqueio comercial imposto pelos EUA, que causam a Cuba um prejuízo anual, cuja estimativa mais recente gira em torno de 700 bilhões de dólares. 

Mesmo assim e diante das garras  do opressor, a pouco mais de 2 mil quilômetros da Florida, Cuba e seu povo resiste bravamente à tentativa do aniquilamento de sua revolução. Com todas as terríveis restrições ao desenvolvimento causadas pelo bloqueio, ainda hoje e exatamente no momento em que escrevo esse artigo, nesta noite de 27 de novembro de 2017, nenhuma criança cubana está dormindo ou dormirá na rua.

A comandar 49 destes quase 60 anos revolucionários, esteve Fidel, não como um líder de palácios, cartazes e panteões, mas como um dos de seu povo, entrincheirado no front de batalha, pronto a sacrificar sua vida pela revolução – como em Playa Giron – mas sempre disposto ao diálogo, como principal ferramenta política para solução pacífica e democrática de conflitos e divergências. Como disse a biógrafa Claudia Furiati, autora de Fidel Castro, Uma Biografia Consentida, em entrevista a Opera Mundi,  “…ele sempre teve uma grande habilidade de saber escutar, saber conversar. Se há alguém que foi tolerante a vida toda foi Fidel. Conversou desde com os esquerdistas ortodoxos até com os mais direitistas. Mas tolerância não tem a ver com incoerência [política]”.

Muito para além de liderar, por quase 50 anos, a resistência do povo cubano à investida do imperialismo contra a revolução socialista, Fidel influenciou gerações de revolucionários pelo mundo afora e continuará influenciando por muito tempo, enquanto houver injustiças a serem combatidas, enquanto houver opressão.

Milhares  de revolucionários e revolucionárias se  formaram ou “se  descobriram” como tal, a partir do exemplo de Cuba, de seu povo e de seu maior  líder, Fidel Castro. Foi assim comigo, foi assim com muitos e muitas que conheço de minha geração – década de 50 do século passado – e continua sendo assim, sem sinais de esgotamento desse fenômeno que leva seus efeitos até mesmo para dentro das muralhas da sede do imperialismo.

Muitos de nós, que bebemos da fonte da revolução cubana, mal sabíamos o que era socialismo, comunismo, marxismo…, mas o exemplo de Fidel, seus companheiros, companheiras e seu povo – ao enfrentar e derrotar um tirano que oprimia Cuba a serviço do imperialismo estadunidense – foi para nós um exemplo a nos guiar na luta contra os opressores de nossos países. Sim, era possível, sim é possível!

Diversos povos pelo mundo afora se espelharam na revolução Cubana, no comandante Fidel Alejandro Castro Ruz, ao acreditarem mais firmemente na possibilidade de resistência e vitória contra um opressor muito mais poderoso.

Outros contaram com a solidariedade ativa de Cuba, como foi o caso de Angola, em África, que recebeu apoio estratégico de milhares de combatentes voluntários cubanos, no esforço de guerra para rechaçar o invasor sul-africano, ainda sob o regime do apartheid.

Aliás, a solidariedade cubana é uma das principais características culturias daquele povo, incentivada e valorizada pelo seu grande lider e oficialmente apoiada pelo Estado. Em tempos de paz, o engajamento revolucionário se traduz em ajuda humanitária em diversas partes do mundo, em tragédias, como o terível terremoto que atingiu o Haiti, ou na epidemia do Ebóla, na África; ou cotidianamente, quando milhares de médicas e médicos cubanos espalhados pelo mundo a prestam asistência á saúde para as populações relegadas ao desamparo pelo sistema capitalista.

No sábado passado, 25 de novembro, completou um ano do desaparecimento de Fidel, mas é possível afirmar que ele é como um verso de uma das cações do escritor, cineasta e compositor João Moraes: tudo que é bom não chega ao fim, se espalha no ar.