Para médico, PEC 181 prefere a mulher morta a realizar o aborto legal

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, nesta sexta-feira (24), o ginecologista Jefferson Drezzet, do Hospital Pérola Byington, destacou que a Proposta de Emenda à Constituição 181/15 que está em discussão na Câmara "é um projeto que prefere a mulher morta a realizar o aborto legal." Drezzet coordena há 26 anos o principal serviço de atendimento, no SUS, a mulheres vítimas de estupro que buscam aborto permitido por lei.

Jefferson Drezzet - Reprodução/YouTube

Para o médico, o Brasil está na contramão do resto do mundo, pois há uma tendência clara em praticar medidas menos restritivas em relação ao aborto em outros países ao longo desses últimos 10 anos. Aqui no país, mesmo com o aborto legalizado em caso de estupro, risco de morte da mãe e em caso de anencefalia, a insuficiência de serviços para uma interrupção segura da gravidez já é imensa.

Diante desse cenário, o aborto em condições inseguras é responsável pela morte de 47 mil mulheres jovens a cada ano, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), apontou o especialista e de acordo com ele, outras 5 milhões de mulheres a cada ano desenvolvem sequelas reprodutivas.

“O aborto clandestino pode ser seguro ou não. Também é caro, pode ser de R$ 6.000 a R$ 10 mil. A maioria das mulheres brasileiras não tem esse recurso e acaba acessando serviços de aborto mais baratos. E quanto mais barato, menos condições de segurança e é por isso que se instala uma desigualdade social extremamente perversa. Uma brasileira rica tem condições de fazer aborto seguro ou pode até viajar para outro país. Enquanto a preta pobre faz o inseguro, que mata uma mulher no mundo a cada 11 minutos. É um crime”, disse Drezzet em entrevista à Folha de S.Paulo.

Questionado sobre os impactos da PEC 181 para as mulheres, o médico afirmou que “o Estado brasileiro já é opressor e desconsidera os direitos das mulheres, e dá um passo além obrigando a manter uma gestação contra vontade, forçada por violência sexual. É um projeto que prefere a mulher morta ao aborto legal. É gravíssimo, mostra descaso do Congresso à condição cidadã de cada mulher”.

Sobre o perfil das vítimas atendidas no hospital, o médico informou que não há um perfil único, mas as adolescentes representam 30% dos casos. Os casos de mulheres violentadas pelos parceiros íntimos são 170 de 2.000, principalmente quando termina a relação. Além de 200 casos de gestações por incesto. Em 25% das mulheres atendidas no hospital têm reações suicidas persistentes.

“Toda questão em relação ao aborto imediatamente tem reação contundente na bancada religiosa no Congresso, com todas as ameaças possíveis, e logo em seguida há recuo do Executivo.
Sejamos claros: a vida das mulheres é moeda de troca no Congresso brasileiro. Isso impede a implementação de políticas públicas. As que temos são excelentes, mas não conseguem sair do papel", finalizou o médico.