Pesquisadores da UFBA são ameaçados de morte por pesquisa sobre gênero

Ao menos três professores da Universidade Federal da Bahia (Ufba) foram ameaçados – um deles de morte -, recentemente, por conta do teor de pesquisas que desenvolvem dentro da instituição. Além do trio de docentes, uma aluna do mestrado também foi ameaçada dias antes da apresentação de sua dissertação.

UFBA - Evandro Veiga/Arquivo CORREIO

Parte dos casos foi denunciada pelo reitor da universidade, João Carlos Salles, nesta segunda-feira (20), quando divulgou uma moção de repúdio contra os ataques, a maioria deles feita através das redes sociais. A carta, assinada pelo reitor, foi produzida e aprovada pelo Conselho Universitário da Ufba proposta pela conselheira Maria Hilda Baqueiro Paraíso, diretora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Salles é presidente do conselho universitário.

No comunicado, o reitor se manifesta contra "a opressão diante das tentativas de cerceamento de todo um campo de produção do conhecimento científico", a qual ele atribui a uma onda de conservadorismo no país.

"Em episódios recentes, verificamos ameaças de morte e outros tipos de violência contra uma de nossas docentes, pesquisadora do Neim; a tentativa de impedimento de defesa de uma dissertação de Mestrado de aluno do IHAC (Instituto de Humanidades, Artes e Ciências), tendo que solicitar a segurança da própria Universidade; e a perseguição e ridicularização nas redes sociais de projetos de pesquisa e extensão que versam sobre essas temáticas", destaca o reitor, em nota.

A professora citada, que teve o nome preservado pela instituição, recebeu as ameaças por desenvolver pesquisas relacionadas à divisão sexual do trabalho.  O tema da pesquisa era sobre sexualidade e diversidade de gênero na educação infantil. 

Os ataques contra ela ocorrem há cerca de um mês. Além de lecionar, a vítima é pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim), grupo de estudos sobre gênero e sexualidade vinculado à graduação de Ciências Sociais.

De acordo com a assessoria da Ufba, a instituição tem tomado todas as providências para garantir a segurança dos envolvidos e a realização dos eventos científicos, aumentando, inclusive, a segurança nos locais em que a professora ministra aulas.

Segundo Maíra Kubik Mano, uma das 15 pesquisadoras do Neim, as mensagens são provenientes de diversos perfis em redes sociais. Ainda não se sabe, no entanto, quem estaria por trás das publicações. Por conta da situação, o núcleo pretende mover uma ação judicial contra os ataques que a servidora vem sofrendo.

O caso está sendo acompanhado pela Procuradoria Federal junto à Ufba, que recomendou que a professora prestasse queixa na Polícia Federal. Provas estão sendo reunidas para que, posteriormente, possam ser apresentadas à polícia.