Quem impede Trump de lançar uma bomba atômica? Ninguém 

Ninguém pode impedir Trump de lançar um ataque nuclear. E isso preocupa o Senado. Nem o Congresso, nem o secretário da Defesa e, por definição, nem os militares, têm o poder de impedir o presidente norte-americano de tomar uma decisão do tipo

Donald Trump - Reuters

Ninguém pode impedir o Presidente dos EUA de lançar um ataque nuclear preventivo contra qualquer país, conclui um trabalho divulgado na segunda-feira (13) pela agência Associated Press.

É uma questão que raramente foi debatida antes de Donald Trump entrar na corrida pela Casa Branca: se o Presidente ordenar um ataque nuclear preventivo, alguém pode impedi-lo? A resposta é não, sintetiza a agência na sua pesquisa. 

Nem o Congresso, nem o secretário da defesa e, por definição, nem os militares, obrigados por dever a executar a ordem.

Bruce Blair, um antigo oficial com responsabilidades no lançamento de mísseis e perito em comando e controlo nuclear, colocou a questão: "O protocolo para ordenar o uso de armas nucleares dota cada Presidente com o poder de acabar com a civilização". Como citou o Washington Post no Verão passado, Trump "tem uma autoridade sem controle para ordenar um ataque nuclear preventivo contra qualquer país, basta uma única ordem verbal para o Gabinete de Guerra do Pentágono".

Em Dezembro de 2008, o então vice-presidente Dick Cheney, também explicou que o Presidente "pode lançar um tipo de ataque devastador como o mundo nunca viu. Não tem precisa falar com ninguém. Não tem que ouvir o Congresso. Não tem que ouvir os tribunais. Ele tem essa autoridade devido à natureza do mundo em que vivemos".

E o mundo mudou ainda mais na última década, com a Coreia Popular representando uma ameaça nuclear maior e mais imediata para os EUA do que se admitia. A natureza do mundo político norte-americano também mudou e os opositores de Trump, mesmo os que pertencem ao seu partido, questionam se ele não tem demasiado poder em relação às armas nucleares.

Estas realidades vão convergir, na terça-feira (14), para a audiência que vai decorrer no Senado, promovida pela comissão dos Negócios Estrangeiros, liderada por um dos opositores republicanos mais ativos de Trump, o senador Bob Corker, eleito pelo estado do Tennessee.

Entre as audições previstas está a de um antigo membro do comando do Pentágono para a guerra nuclear. O tópico é "Autoridade para ordenar o uso de armas nucleares".

Alex Wellerstein, um historiador de ciência no Instituto de Tecnologia Stevens, que tem investigado e escrito extensamente sobre a autoridade nuclear presidencial, declarou-se esperançado em que a discussão "possa iluminar aspectos dos procedimentos para o uso presidencial de armas nucleares que precisam realmente de ser conhecidas e discutidas".

Wellerstein adiantou que o sistema norte-americano tem evoluído mais pela tradição do que pela lei.

"A tecnologia da bomba em si não obriga a este tipo de processo", escreveu num email à AP. "Esse é um produto das circunstâncias. Penso que as circunstâncias sob as quais o sistema foi criado, e em que o mundo vive agora, são suficientemente diferentes para que talvez possamos, e talvez devamos, contemplar a revisão do sistema".

O sistema foi construído para uma tomada rápida de decisão, não para debate. Isso porque a velocidade é vista como essencial numa crise com alguma nação de poderio nuclear. Por exemplo, imagina-se uma situação hipotética onde há um embate entre os EUA e a Rússia que, ao contrário da Coreia Popular, possui armas nucleares suficientes para destruir os EUA em uma questão de minutos.

Os mísseis russos podem atingir os EUA em cerca de 30 minutos. Os mísseis disparados dos submarinos nas proximidades das costas norte-americanas até podem chegar em metade deste tempo. Dado que algum tempo da resposta norte-americana seria consumida em passos administrativos, o Presidente teria menos de dez minutos para absorver a informação, rever as suas opções e tomar uma decisão, segundo um relatório, datado de dezembro de 2016, de uma especialista em armas nucleares, Amy Woolf, para o Serviço de Investigação do Congresso.