Venda de bombas britânicas aos sauditas aumentou com a guerra no Iêmen

O número de bombas e mísseis de produção britânica vendidos à Arábia Saudita aumentou quase 500% desde o início da guerra de agressão ao Iêmen, revelou esta terça-feira o The Independent, referindo-se a dados de uma organização que luta contra o comércio de armas

Destroços de edifício bombardeado pela coligação saudita na capital do Iémen - The Independent

De acordo com a organização britânica Campanha contra o Comércio de Armas (CAAT, na sigla em inglês), nos primeiros dois anos da guerra de agressão ao Iêmen o governo do Reino Unido autorizou exportações de armamento para a Arábia Saudita no valor de 4,6 mil milhões de libras (5,2 mil milhões de euros), embora existam cada vez mais provas de que a coligação liderada pelos sauditas tem cometido massacres contra a população civil e crimes de guerra.

Bombas britânicas têm sido encontradas em locais destruídos pela aviação saudita e onde, de acordo com diversas instâncias, o direito internacional foi violado. Mas isso não tem constituído um obtáculo à política britânica de apoio à campanha saudita no Iêmen.

Nos dois anos que antecederam a guerra no país árabe, o governo britânico aprovou licenças de exportação de armamento, relativas a bombas e mísseis, no valor de 33 milhões de libras (37,3 milhões de euros), revelou a CAAT.

A mesma organização estima que esse valor tenha subido para 1,9 mil milhões de libras (2,1 mil milhões de euros) desde o início da ofensiva saudita no Iêmen, em março de 2015, o que representa um aumento de 457%.

Reino Unido "acelera ritmo de vendas"

Em declarações ao The Independent, Tom Barns, co-director da CAAT, disse que, à medida que o ritmo dos ataques aéreos sauditas aumenta, o governo do seu país acelera o ritmo das vendas de "equipamento que está sendo usado para cometer atrocidades no Iêmen".

"No último ano, a situação no Iêmen está se agravando", alertou, acrescentando que, "em um momento em que o Reino Unido devia ser mais cauteloso sobre aquilo que está vendendo, ele ainda atribui um maior número de licenças de exportação».

Em julho deste ano, o Tribunal Superior britânico deliberou que a venda de armas à Arábia Saudita é legal, não acolhendo o pedido de suspensão das licenças de exportação formulado pela CAAT. O tribunal argumentou não ter sido provado o "claro risco" de que o equipamento iria ser utilizado para "violar seriamente o direito internacional humanitário".

No entanto, a CAAT pretende recorrer da decisão judicial e está realizando uma campanha de arrecadação de fundos para poder dar sequência à batalha nos tribunais, pela qual já teve de pagar 40 mil libras (cerca de 45 mil euros).

Bloqueio e preocupações humanitárias

Depois de, no sábado (4), a resistência Huti iemenita ter lançado um míssil balístico contra um aeroporto nas imediações da capital saudita, Riade, a coligação liderada pela Arábia Saudita decidiu bloquear todas as entradas no país, alegando que quer "deter o fluxo de armas".

Tanto as Nações Unidas como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha alertaram para as consequências humanitárias da decisão, na medida em que os sauditas estão impedindo a entrada de ajuda, medicamentos e comida no mais pobre dos países árabes.

Um representante do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA, na sigla em inglês) disse esta terça-feira (7), em Genebra, que as operações de ajuda humanitária estavam "bloqueadas", tendo em conta que os aeroportos e os portos marítimos no Iêmen estavam fechados.

Manifestou ainda preocupação com o aumento súbito dos combustíveis, que poderá agravar ainda mais a já grave situação humanitária no país, onde 17 milhões de pessoas passam fome e uma epidemia de cólera já provocou mais de 2000 mortes.

Por seu lado, um representante da Cruz Vermelha alertou para a necessidade urgente da entrada de comida e medicamentos no Iêmen, sendo que alguns carregamentos já tinham sido impedidos de entrar no país.

Entretanto os bombardeamentos prosseguem. De acordo com a PressTV, nesta terça-feira (7), ataques da aviação saudita na região de Aflah, na província de Hajjah (Noroeste do Iémen), atingiram pelo menos 60 civis, deixando um indeterminado número de vítimas.