Trump chega à Seul e mantém tensão quanto à Coreia Popular 

O presidente Donald Trump esteve na Coreia do Sul na última terça-feira (7), onde se encontrou com o líder do país, Moon Jae-in; apesar de ter parecido mais otimista quanto às negociações com a Coreia Popular, o tom de ameaça ainda persiste

Por Alessandra Monterastelli *

Donald Trump na Coreia do Sul - Reuters

O norte-americano disse estar disponível para se sentar à mesa de negociações com Pyongyang, segundo a CNN. A declaração surpreendeu, considerado o argumento de solução bélica que Trump vinha levando até o momento; talvez a fala tenha sido usada como paliativo após inúmeras críticas de diversos países ao discurso ameaçador contra a Coreia Popular.

Foi possível notar uma certa controvérsia durante a conferência de imprensa conjunta com Moon Jae-in, apontando que, na realidade, o discurso do norte-americano continua o mesmo. Ao ser questionado se via progressos quanto a Coreia Popular ele respondeu que sim: “estamos fazendo muitos progressos. Penso que estamos mostrando uma grande força. Enviámos três dos maiores porta-aviões do mundo [para a península coreana] e um submarino nuclear também está posicionado”. Antes da conferência de imprensa, segundo o jornal português Público, as autoridades militares dos EUA tinham anunciado que três porta-aviões americanos iriam participar numa operação militar nos próximos dias. “Esperamos por Deus nunca ter que usá-los”, afirmou Trump, acrescentando: “dito isto, acredito que realmente faz sentido para a Coreia do Norte vir fazer um acordo que seja bom para as pessoas da Coreia do Norte e para o mundo”.

Ainda segundo informações do Publico, em seu discurso para os deputados sul-coreanos, Trump declarou que fala “não só em nome dos nossos países, mas de todas as nações civilizadas quando digo à Coreia do Norte: não nos subestimem e não nos ponham à prova. Defenderemos a nossa segurança comum, prosperidade partilhada e liberdade sagrada” e acrescentou: “não permitiremos que cidades norte-americanas sejam ameaçadas com destruição. E não permitiremos que as piores atrocidades da história se repitam aqui, nesta terra pela qual lutámos e morremos” disse, referindo-se às ações das tropas norte-americanas aliadas às sul-coreanas durante a violenta Guerra da Coreia.

Se na terça-feira (7) a postura dos EUA tentava parecer conciliatória- ainda que as contradições e o tom sutil de ameaça presentes em seu discurso não tenham passado despercebidos- nesta quarta-feira (8) Trump afirmou querer “paz através da força!”, em declaração compartilhada em sua página no Twitter. Na mesma mensagem, Trump elogiou o “melhor e mais recente equipamento militar do mundo”, o norte-americano. “Agora não é tempo de diálogo, mas de aplicar a maior pressão possível à Coreia do Norte”, sublinhou o presidente dos EUA em Tóquio no domingo (5), elogiando a “postura muito, muito agressiva” do primeiro-ministro japonês.

Trump tem apelado nos últimos dias para que a comunidade internacional faça mais esforços para pressionar a Coreia Popular após esta ter insistido na realização de diversos testes nucleares. Os líderes dos países posicionaram-se contra os testes, mas que isso aconteça pela via do diálogo. A China, principal aliada da Coreia Popular, tem sido fortemente criticada por Trump por não ter feito o suficiente para aplicar as sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança. Contudo, o país asiático também se manteve contra os testes nucleares e a favor da paz, defendendo que esta seja atingida com negociações.

O jornal italiano Il Manifesto argumenta que os cumprimentos entre Kim Jong-un e Xi Jinping pelo 19º Congresso do Partido Comunista da China pareceram abrir novos canais destinados a de fato garantir uma solução para o conflito na região, que seria “permitir que todos se sentem em volta de uma mesa”, para negociações.

Tom de provocação

A Coreia Popular interpretou a presença de Donald Trump em território asiático como provocação, segundo a mídia estatal do país. “O regime de Kim Jong-un está preparado para responder de forma decisiva e sem misericórdia, através da mobilização de todas as suas forças” às “loucuras” do líder norte-americano; “ninguém pode prever quando o velho lunático que ocupa a Casa Branca vai perder a cabeça e começar uma guerra nuclear. Devemos lembrar-lhe, mais uma vez, que se quiser evitar a ruína, deverá parar com as suas provocações”, escreveu o jornal Rodong Sinmun.