Conservadores ferem democracia ao tentarem impedir evento com filósofa

Nesta terça-feira (07), dois grupos distinto realizam atos em frente ao Sesc Pompeia em São Paulo. A motivação da parcela conservadora é tentar impedir que a renomada filósofa Judith Butler participe do seminário "Os Fins da Democracia”. Como resposta a essa ação de censura, outro grupo também manifesta em frente ao local do evento em apoio à filósofa e à liberdade de expressão.

Por Verônica Lugarini*

Judith Butler - Foto: Fanca Cortez

O momento no Brasil é temeroso. Quem observou anos de avanços de políticas públicas e sociais dos últimos anos se assusta com a onda de conservadorismo que aflige o país desde o golpe de Michel Temer, projetos como Escola Sem Partido, as proibições de exposições (caso do Queermuseu e do MAM) e a liminar que autoriza a “cura gay”, infelizmente, se tornam cada vez mais comuns no país e criam um ambiente propício não apenas para a instauração da censura, mas também para ações que ferem os direitos humanos.

Seguindo essa lógica, manifestantes conservadores atacam a liberdade de expressão ao tentarem impossibilitar a participação da filósofa americana Judith Butler em um seminário que discute justamente a democracia. Butler é professora da Universidade de Berkeley e tem se debruçado, desde os anos 1980, sobre o feminismo e a teoria Queer – campo para o qual o gênero, a orientação e a identidade sexual são resultados de uma construção social, e portanto, não biológicos.

Uma petição online, no site CitizenGo, reuniu mais de 360 mil assinaturas pelo cancelamento da palestra da filósofa no evento do Sesc. "Não podemos permitir que a promotora dessa ideologia nefasta promova em nosso país suas ideias absurdas, que têm por objetivo acelerar o processor de corrupção e fragmentação da sociedade", diz um trecho do texto da petição, que usa ainda a hashtag #ForaButler.

Ainda no abaixo-assinado o texto afirma que "Judith Butler não é bem-vinda no Brasil", porque propõe "a desconstrução da identidade humana pela desconstrução da sexualidade".

O surpreendente é que o tema do seminário não discute a questão das identidades sexuais. Sobre os protestos, Judith Butler informou a BBC Brasil que há um grande equívoco circulando no Brasil. "É estranho, porque não farei uma palestra no Sesc. Sou organizadora da conferência. Ou seja, para além de conservador, o grupo contrário à presença da filósofa também é desinformado.
Do outro lado, os manifestantes se revezavam em microfone para defender a presença da filósofa, a liberdade de expressão, o debate democrático e os direitos da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros).

“A vinda da Judith Butler representa mais um canal de pensarmos como toda a questão de gênero não pode ser uma afronta, tem que ser um reconhecimento da nossa existência. ”, disse a antropóloga Heloíse Fruchi durante o ato.

“Mesmo que nos afrontem nesse momento, sabemos que esse é o nosso direito. Então precisamos continuar tendo voz, e precisamos continuar reivindicando nossos direitos para que tenhamos cada vez mais força. Bem-vinda, Butler,” relatou Fruchi.

Os atos estão separados, na calçada do Sesc Pompéia ficou o grande grupo que realiza o Cordão de Proteção para Judith Butler, conforme evento no Facebook e do outro lado da rua Clélia, o grupo contrário.

Confira abaixo o vídeo da Ponte Jornalismo durante os atos: