Festivais estudantis movimentam espaços ociosos nas universidades

O festival “Em cada canto é um canto de luta” na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) em Recife começou nesta segunda-feira (30) e termina nesta quarta (1).

Prainha fica - UNE

“Criamos o evento para usar alguns espaços na universidade que estão em desuso como a Praça em frente ao RU, onde ontem rolou um ato cultural com som ao vivo, bazar, exposições artísticas, e microfone aberto para os estudantes”, destacou o estudante Philipe Ricardo, diretor do Cuca da UNE.

A programação inclui ainda oficina de construção de saber agroecológico junto com o DCE, e cineclube Cuca Metragem com exibição de filmes locais, entre outras.

O evento feito por estudantes para estudantes está na segunda edição. “Achamos que temos que ocupar os espaços da universidade com nossos cantos de luta, nossa cultura e nossa arte porque é o que nos liga num projeto nacional mais amplo. É uma juventude que tem muito para mostrar e que tem muito diálogo com outros espaços que a universidade ainda não está tão aberta para receber e estamos fazendo pontes”, afirmou Phil.

Ele conta que a ideia dos festivais começou quando os estudantes da Rural conheceram o Cuca da UNE na Bienal de 2015. “Já produzíamos as coisas fora da universidade e aí quando retornamos da Bienal montamos o Coletivo Cuca te pega que reuniu esses estudantes. Aí fizemos o primeiro festival que foi uma reunião do produto de todos e convidamos pessoas de fora e dentro da universidade para exporem.”

Prainha fica!

Na mesma ideia de reivindicar os espaços culturais da universidade ou mesmo ressignificar os que já existem no próximo dia 16 de novembro os estudantes da Escola de Comunicações e Arte da USP vão fazer um dia de ocupação cultural e política no espaço da Prainha. O Festival Prainha Fica! organizado pelo Centro Acadêmico Lupe Cotrim junto do CUCA da UNE vai trazer oficinas, shows e o alunos também vão participar da programação com apresentações, a realização de um brechó e um Sarau durante a tarde.

Durante os últimos meses os estudantes da ECA e da USP tem se mobilizado para defender seu espaço de lazer e confraternização onde também abriga o local chamado de vivência, sede do CALC e da Atlética.

“ O acesso ao espaço estudantil foi controlado. A nossa luta não é só pelo espaço, mas para manter o caráter público do local”, destacou o estudante Marcos Hermanson, do CALC.

A Prainha tem sido ameaçada há muitas gestões, porém desde foi a gestão de M.A. Zago e V. Agopyan que cercou o espaço com uma grade dificultando o acesso.

“Antes mesmo da grade já pegamos uma situação difícil. Tivemos todo um trabalho para incentivar atividades na Prainha, e passamos também a divulgar mais o espaço para que ele esteja no imaginário dos estudantes para que todos o reivindiquem”, destacou.

Democratização dos espaços culturais

Para a coordenadora do Cuca da UNE, Camila Ribeiro, o movimento de apropriação dos espaços da universidade pelos estudantes tem crescido.

“ A universidade não é só a sala de aula, mas infelizmente a maioria das instituições tem portarias que impedem a realização de festas e atividades culturais de todo o tipo dentro dos seus portões, e restringem a própria atuação do movimento estudantil. O que está intrínseca nessa pauta é a democratização dos espaços culturais, conchas acústicas, teatros, quadras e ginásios esportivos que além de serem dos estudantes deveriam ser abertos para a comunidade”, explica.

A UFF é uma das poucas universidades que tem a realização de festas e atividades culturais regulamentada no Conselho Universitário, conquista do DCE Fernando Santa Cruz em 2015.

No Campus Retiro da UFF, os estudantes realizaram no último dia 21 de Outubro o 1º Festival Universitário de Cultura de Angra dos Reis. O evento foi feito em parceria com os coletivos de estudantes negros, LGBTs, de Agroecologia, da Ocupação do Retiro bem como os Centros Acadêmicos de Pedagogia, Geografia e Políticas Públicas. Participaram ainda movimentos culturais de rua como do hip hop e de teatro. “A nossa ideia foi realizar intervenções, oficinas, mesas de debate e ocupações em defesa da universidade pública. Com o corte de verbas na educação a expansão das obras do Reuni aqui estão paradas, então queremos ocupar esses espaços com atividades de pesquisa e extensão e mostrar como os movimentos culturais podem reafirmar essa luta”, explicou o estudante de políticas públicas, Hugo Vilela.

Ele conta que o festival também quis fortalecer a ocupação dos estudantes que tem utilizado parte do campus como moradia estudantil.

Ocupação e mão na massa

Exemplo de mobilização de sucesso foi o festival #DeuNaTelha em Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro. O evento aconteceu entre os dias 11,12 e 13 de outubro deste ano e fez parte do projeto para consolidação o espaço da galpão da 15 de novembro, um espaço abandonado dentro do terreno da Universidade Federal Fluminense, no novo polo da instituição que com o corte de verbas nas federais ainda não tem data para ficar pronto.

A ideia partiu de dois professores da UFF, Elis Miranda e Paulo Ganjanigo, que viram no espaço, na região central da cidade, uma plataforma de encontro da produção cultural e artística.
De acordo com a estudante Rachel Dias, em 2014 os estudantes legitimaram a proposta com uma ocupação e depois começaram alguns eventos por meio do Coletivo da Raiz ao Fruto.

“Já este ano o #DeuNaTelha realizou mostras de Artes Cênicas, Artes Visuais, Audiovisual, Música e Literatura feito por agentes culturais e estudantes da cidade de Campos foi o pontapé para dar visibilidade ao projeto do Galpão, e fazer dele um espaço para abrigar o encontro de potências artísticas e culturais da cidade, através de cursos, oficinas e diálogo com os grupos artísticos locais, abrindo as portas para a comunidade e apoiando produções locais/regionais”, destacou Rachel.

A estrutura e parte da programação se deu através do apoio do Centro de Artes da UFF, que integrou com o Festival Deu Na Telha o Festival Interculturalidades.

A iniciativa deu tão certo que transformar o galpão em um equipamento cultural para a universidade e para a cidade hoje é um projeto de Extensão da UFF.