Líderes sociais continuam sendo mortos na Colômbia, diz dirigente

A presidente da Associação Nacional de Zonas de Reserva Campesina (Anzorc), Carmenza Gómez Ortega, criticou a Justiça colombiana por não abrir uma investigação sobre os assassinatos dos líderes campesinos. “Os assassinatos de líderes sociais na Colômbia são sistemáticos e seletivos”, denunciou.

Camponeses colombianos - Divulgação

 No oitavo dia da paralisação nacional que diversas organizações colombianas promoveram em defesa da implementação dos acordos de paz, Gómez Ortega afirmou que, este ano, já foram registrados 130 assassinatos de líderes sociais, que foram escolhidos porque participam em associações de agricultores, no processo que visa promover o cumprimento dos acordos de paz, firmados em Havana entre as Farc-EP e o governo, e na substituição voluntária de cultivos ilícitos.

“São dirigentes que têm participado de debates, [na elaboração de] propostas; não são casos isolados, são companheiros que fazem parte dos processos, das organizações”, disse a líder da Anzorc.

Denunciou ainda que os assassinatos ocorrem em lugares que foram abandonados pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP), após a desmobilização, no âmbito do processo que conduziria à formação do partido político Força Revolucionária Alternativa do Comum (FARC). “Nestas áreas há outros grupos que estão matando os líderes (…) para gerar medo e fazer com que as populações não reivindiquem os seus direitos”, disse.

A dirigente camponesa mostrou-se preocupada pelo fato de a Justiça colombiana não abrir uma investigação e questionou sobre as razões “de o governo não se pronunciar, não prender aqueles que estão matando os nossos dirigentes”.

Sobre os acordos de paz firmados em 2016 entre o governo colombiano e as Farc-EP, Gómez Ortega disse que o governo continua a não os cumprir. “O povo está se mobilizando, exigindo que sejam cumpridos, não apenas no que se refere à substituição de cultivos, mas os acordos que foram assinados, sobretudo o ponto que diz respeito à reforma agrária integral”.

Carmenza Gómez Ortega criticou ainda o fato de os programas para a substituição de cultivos, que fazem parte dos acordos de Havana, não contarem com financiamento, enquanto os da erradicação forçada o possuem.

Nos últimos dias, mais assassinatos

De acordo com a Contagio Radio, soube-se nas últimas horas que, no dia 29, um ex-combatente das Farc foi morto no departamento de Putumayo. Por sua vez, no departamento de Antioquia, foi assassinado Ramón Alcides García, líder do processo de substituição de cultivos de uso ilícito no município e na região de Briceño, e membro da Marcha Patriótica.

A Contagio Radio dá ainda conta da denúncia efetuada pela Farc no último dia 26, de acordo com a qual uma família indígena teria sido assassinada na Vereda Buena Vista, no município de Mesetas (departamento de Meta). De acordo com a denúncia, em 2017 foram assassinados 28 membros de comunidades indígenas no país andino.