Depois de suspender a Venezuela, Mercosul não conseguiu avançar

Para o professor de Economia e Política Internacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Eduardo Crespo, o argumento do chanceler brasileiro Aloysio Nunes sobre a suspenção da Venezuela do Mercosul não se concretizou porque depois disso o bloco continuou sem avançar em negociações com outros países.

Reunião do Mercosul - Divulgação

“A suspensão da Venezuela do Mercosul, ocorrida em agosto, não ajudou até agora em nada o bloco nas negociações para fechar acordos comerciais com outros países, ao contrário do que afirmou o chanceler brasileiro Aloysio Nunes Ferreira”, explicou o professor.

Em seminário realizado na Federação de Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) sobre oportunidades de investimento e negócios, o chanceler disse a empresários que a suspensão do país caribenho — por descumprimento de cláusulas democráticas do bloco e por não ter flexibilizado sua legislação, permitindo transações com os parceiros — está facilitando as negociações com outros países.

No entanto, o professor afirma que a declaração teve cunho apenas político e que, infelizmente, não reflete as dificuldades que o Mercosul vem enfrentando para assinatura de acordos como com a União Europeia, por exemplo. Previsto para acontecer em dezembro, o memorando entre europeus e latino-americanos continua esbarrando na negativa de países como França e Irlanda em aceitar reduzir os subsídios governamentais ao agronegócio local.

"O chanceler está tentando transmitir esperança, passar uma mensagem de otimismo, mas não se sustenta. Aliás, não fica muito claro o que seria uma corrente de comércio com a União Europeia. Não fica claro porque uma negociação que leva tantos anos (desde 1999) e que não saiu e agora vai sair porque saiu a Venezuela, ela que só exporta petróleo", diz o professor, observando que um dos principais obstáculos para um acordo com os europeus é a suspensão de restrições justamente e importação de alimentos e commodities.

Na visão de Crespo, declarações como as do chanceler brasileiro acontecem mais por motivos ideológicos do que práticos. Para o professor, o Mercosul só vai começar a deslanchar novamente, quando a maior economia do bloco, a brasileira, conseguir sustentar sua retomada.

"A economia brasileira está nove pontos abaixo do que estava em 2013, quando o Brasil ficou no fundo do poço e não sai, e nesse contexto não gera demanda para o resto (do bloco). O Mercosul está completamente parado, e isso vai gerando tensões e conflitos. A Argentina agora está aumentando sua corrente com o Brasil, com um leve crescimento esse ano, mas ainda não recuperou o nível de 2015. Essas declarações são próprias de uma economia e de um bloco que não estão indo para lugar nenhum", finaliza Crespo.