O futebol italiano reage à intolerância antissemita

A décima rodada da Serie A ficará marcada por diversas manifestações contra o antissemitismo nos estádios italianos. A série de ações será realizada pela federação e pela Lazio, após episódio envolvendo ultras biancocelesti no último final de semana.

anne franck futebol italiano

Durante o jogo contra o Cagliari, a Curva Nord do Estádio Olímpico esteve fechada como punição a ofensas racistas. Os laziali acabaram deslocados à Curva Sud, local tradicional dos ultras da Roma. E, para atacar os rivais, colaram imagens de insultos e de Anne Frank (garota que se tornou símbolo do Holocausto por seu célebre diário) vestindo a camisa giallorossa. O incidente vem causando enorme repercussão no país.

Antes de cada jogo da rodada, a federação italiana promoverá o que chamou de “minuto de reflexão”. Crianças entrarão em campo com edições do Diário de Anne Frank, enquanto um trecho do livro deverá ser lido, em forma de conscientização. O episódio ainda foi condenado por outras autoridades italianas, incluindo o presidente Sergio Mattarella e a prefeita Virginia Raggi. A polícia local abriu uma investigação para apurar o caso e 15 pessoas foram identificadas inicialmente como responsáveis, incluindo dois adolescentes – o mais novo, de 13 anos.

Além disso, a Lazio também se manifestará contra o antissemitismo. Antes do jogo contra o Bologna, os jogadores se aquecerão com camisetas na qual o rosto de Anne Frank estará impresso. Nesta terça, o presidente Claudio Lotito levou flores a uma sinagoga em Roma. Além disso, o dirigente afirmou que mandará 200 ultras para visitarem o Campo de Concentração de Auschwitz, na Polônia, “para educar e ter certeza que não nos esqueceremos de certos episódios”. Ele enfatizou que isso representa apenas uma parcela pequena da torcida, pedindo para que não façam qualquer generalização.

“Nós estamos aqui tentando nos dissociar de qualquer forma de xenofobia e antissemitismo. A maioria absoluta da torcida da Lazio compartilha nossa posição. Faremos outras iniciativas para suprimir estes incidentes, através de ações diárias, como visitas de jogadores a escolas para superar barreiras sociais, raciais e financeiras. Estamos falando não do que a Lazio quer fazer, mas o que temos feito: o clube sempre condenou esses incidentes. Há maçãs podres em qualquer comunidade, não podemos colocar um segurança para cada torcedor”, declarou Lotito.

Já Arturo Diaconale, porta-voz da Lazio, declarou que o clube tem trabalhado intensamente contra o extremismo e o preconceito. Segundo ele, o número de episódios de racismo envolvendo os ultras diminuíram. Os biancocelesti prepararão um dossiê sobre o caso, e pediram o auxílio dos demais torcedores no trabalho. A imagem de Anne Frank usando a camisa da Roma já tinha sido reproduzida anteriormente, colada em algumas ruas da capital em dezembro de 2013.

Já os ultras da Lazio, em nota oficial, afirmaram que “acusar um torcedor de pertencer a outra religião não é um crime” e que “não se dissociam daquilo que não fizeram”. Além disso, o grupo também acusou a mídia de sensacionalizar o caso e a federação italiana de perseguir o clube. “Há outros incidentes que mereciam muito mais atenção dos programas de televisão e dos jornais”, apontaram, reafirmando que os romanistas também tentam ofendê-los fazendo referências aos judeus, mas que a imprensa não dá a mesma atenção. “Os mesmos adesivos também foram encontrados na nossa curva, mas nós certamente não estamos chorando, porque ninguém condenou isso”.