Companheiros de militância lamentam a morte de Ricardo Zarattini

A morte do histórico militante da esquerda brasileira Ricardo Zarattini, neste domingo (14), causou profunda comoção junto àqueles que militaram ao seu lado. Entre os que manifestaram pesar estão a presidenta Dilma Rousseff e o ex-ministro José Dirceu, além de parlamentares e dirigentes do PT, partido ao qual era filiado.

Ricardo Zarattini - Foto: Instituto Vladimir Herzog

Ricardo Zarattini faleceu aos 82 anos, no início da tarde deste domingo, vítima de falência múltipla dos órgãos, no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde estava internado há alguns dias. Seu corpo será velado até às 15 horas desta segunda-feira (16) no Cemitério de São Paulo e cremado em Vila Alpina.

Em sua página oficial na internet, o Partido dos Trabalhadores lamentou a morte de seu filiado e o definiu como “lutador histórico pela democracia e pelo povo brasileiro”. Já seu filho, Carlos Zarattini, líder do PT na Câmara dos Deputados, publicou em sua página do Facebook um depoimento do vereador da capital paulista Antonio Donato (PT) que identifica Ricardo Zarattini como um dos poucos que mereceram completamente os versos do poeta alemão Berthold Brecht que diz serem imprescindíveis “os que lutam toda a vida”. Para comprovar suas palavras, Donato afirma que Zarattini “até o último momento de lucidez, discutia a situação do país, propunha iniciativas e ações a todos os que o visitavam no hospital. (…) Entendia profundamente a gravidade do momento do alto da experiência de quase 70 anos de militância pela soberania nacional”.

A presidenta do PT, Gleisi Hoffman externa seus sentimentos e deseja “muita força e muita luz para nosso líder da bancada do PT na Câmara, Carlos Zarattini e para toda sua família”. A senadora relembra que Zarattini “participou ativamente do PT, onde chegou a ser deputado federal” e busca palavras do próprio companheiro falecido para defini-lo: ‘Minha história de vida é uma história de vida de todos aqueles que lutaram naquele período. A maior marca deixada não é individual, é de toda uma série de companheiros retirados da vida política e que hoje seriam pessoas importantes para que o país atingisse seus objetivos’.

A presidenta Dilma Rousseff divulgou nota em que lamento profundamente a morte de Ricardo Zarattini a quem define “como grande companheiro de luta pela democracia e pela emancipação do povo brasileiro”. Dilma afirma ainda que “ Com sua morte, o Brasil perde um militante político corajoso e incansável”, que “até o último dia da sua vida, assumiu as lutas pela democracia, contra a desigualdade e pela soberania do País”.

A bancada do PT na Câmara dos Deputados divulgou nota de pesar onde afirma que “hoje, o Brasil fica mais triste diante da perda irreparável de Ricardo Zarattini Filho, grande revolucionário, exemplo de brasileiro apaixonado e dedicado à construção de uma Nação mais justa e solidária”. A bancada se solidariza com seu líder, resgata da trajetória de Zarattini e afirma que ele “deixa uma legião enorme de companheiros e companheiras que compartilharam de seus ensinamentos, de sua experiência e de sua eterna juventude para com energia lutar por um Brasil soberano e justo para a maioria do povo”.

O ex-ministro José Dirceu manifestou-se afirmando que acabara de receber “a noticia do falecimento do companheiro Zarattini com quem tive uma longa e grata amizade e laços políticos de luta e combate”. Dirceu recorda quando se conheceram ao serem libertados e banidos do Brasil em troca da libertação do embaixador dos Estados Unidos, em 1969, e descreve a trajetória de Zarattini. Ressalta o espírito solidário do “Velho Zara”, como chamavam seus amigos “com respeito e reverência”. Dirceu afirma que ele teve “toda uma bela vida dedicada ao Brasil e ao combate ao imperialismo como ele fazia questão de destacar. Sua razão de ser foi a revolução e dedicou todos seus últimos anos meses e dias ao PT”. O ex-ministro afirma que não tem a’palavras para expressar minha gratidão ao Zara, meu amigo e companheiro”. Recarda que em Cuba ele era “alegre, sempre debatendo, estudando, escrevendo. Corajoso, mas humilde, Zara era um homem charmoso e nos envolvia com seu carinho e amizade. Polêmico, mas sempre buscando a unidade. Já sentia sua falta pela distância agora honro sua memória continuando sua luta”.

Trajetória

Ricardo Zarattini Filho  Iniciou sua militância política quando ainda era secundarista. Aos 16 anos, participou da campanha “O Petróleo é Nosso”, que resultou na criação da Petrobras. Foi também presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE) de São Paulo.

Em 1964, no início da ditadura militar, Zarattini trabalhava como engenheiro no Nordeste e atuava na reorganização do movimento canavieiro. Em 1968, integrava o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Preso três dias antes da decretação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), foi torturado e permaneceu no Quartel Dias Cardoso (PE), onde fez amizade com alguns soldados e passou a lecionar para eles.

Em 1969, conseguiu fugir com a ajuda dos soldados. Ficou escondido em Pernambuco por um mês, com o auxílio de Dom Hélder Câmara, e depois se dirigiu a São Paulo, onde foi preso pela Operação Bandeirante (Oban). Sofreu torturas por 14 dias seguidos. Sua libertação ocorreu no mesmo ano, junto com outros 14 companheiros, em troca do embaixador estadunidense Charles Burke Elbrick.

Zarattini seguiu para o México, depois para Cuba e Chile. Em 1974, voltou ao Brasil clandestinamente e, em maio de 1978, foi novamente preso e torturado. No ano seguinte, foi libertado em decorrência da anistia.

Na década de 1980, participou das lutas pelos direitos dos trabalhadores e atuou na Assembleia Nacional Constituinte como assessor. Militante do Partido dos Trabalhadores (PT), candidatou-se à Câmara dos Deputados em 2002, mas somente em 2004 passou a exercer o mandato de deputado federal.

Ricardo Zarattini foi inocentado, em 2013, da acusação de ser o responsável, ao lado de Ednaldo Miranda, pela explosão de uma bomba no saguão do Aeroporto dos Guararapes do Recife, ocorrida em 1966. A reparação foi possível graças a documentos dos órgãos de segurança, apresentados pela Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara, que os livram da acusação.

Assista a um trecho do depoimento de Ricardo Zarattini ao projeto Resistir é Preciso, do Instituto Vladimri Herzog: