Na esteira do desmonte, Banco do Brasil fecha unidades em Portugal

Como parte da estratégia de esvaziamento dos bancos públicos do governo Michel Temer, o Banco do Brasil está fechando agências de varejo não só dentro do país, como também fora dele. Após ter desativado nos últimos meses unidades em mercados como Venezuela, Uruguai, Seul e Hong Kong, a instituição financeira acaba de fazer o mesmo em Portugal, onde as agências de Lisboa e do Porto atendiam cerca de oito mil correntistas.

BB lisboa

“O fechamento em Lisboa é parte de uma estratégia maior de diminuição da capacidade do Banco do Brasil de realizar projetos de financiamentos que fortaleçam o desenvolvimento. É uma visão de desnacionalização, que está afetando todos os bancos públicos. Caixa, Banco do Nordeste e BNDES também são vítimas. Trata-se de uma tentativa de esvaziar as instituições públicas, fortalecendo os bancos privados”, opinou o presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Augusto Vasconcelos.

Referência da presença brasileira em Portugal, o Banco do Brasil comunicou por carta a seus clientes que deixará de operar em terras lusitanas no próximo mês. Até o dia 5 de novembro, ainda será possível utilizar os atuais serviços de Internet banking, terminais Multibanco e cartões bancários. A decisão ocorre justamente em um momento em que Portugal tem recebido elevados números de turistas e residentes brasileiros.

O banco comunicou ainda que fez um acordo para transferir seus negócios de varejo para o Banco CTT, uma medida que não foi bem explicada e vai afetar 23% dos trabalhadores da instituição.

“O Banco do Brasil apresenta lucros em Portugal, cumpre todos os requisitos regulatórios e tem uma carteira de crédito sem problemas com imparidades. Além disso, o aumento do fluxo de turistas e dos residentes brasileiros no nosso país recomendaria um reforço das capacidades do banco no mercado nacional e não o contrário. Não há, pois, razão nenhuma para avançar para a demissão coletiva”, defendeu o presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) de Portugal, Paulo Marcos.

Para ele, a alegação de que o BB perde dinheiro com as operações de varejo não é verdadeira. “Parece que estão a imputar ao varejo custos dos administradores", disse à Agência Lusa, criticando que haja redução de trabalhadores, mas que se mantenham o mesmo número de administradores, o que resultará em uma proporção de 10 trabalhadores para cada administrador. 

Augusto Vasconcelos, por sua vez, disse que os colegas que trabalham em Lisboa forma pegos de surpresa. “Os colegas de lá nos informaram que eles recentemente fizeram até um momento de confraternização para comemorar os resultados da agência e, no mesmo momento, de maneira sumária, informaram sobre o fechamento da unidade. São colegas que transferiram parte de suas vidas para lá e receberam essa notícia assim, tomando todos de surpresa, já que a unidade de negócios era até bem avaliada dentro do próprio banco”, disse.

Sob o comando do governo de Michel Temer, o banco não parece estar preocupado com os trabalhadores. Nem mesmo com a prestação de serviço à população e ao país, algo que um banco público deveria prezar. A administração pós-golpe, contudo, só pensa no lucro.

"Só vamos manter agências onde pudermos ter alguma escala e sermos rentáveis", disse à Reuters o vice-presidente de negócios de atacado do BB, Maurício Maurano. O banco informou que agências para clientes pessoa física na maioria das 16 regiões em atua devem ser desativadas nos próximos meses. Estados Unidos e Japão serão exceções.

Em alguns lugares, o BB manterá escritórios com foco no atendimento a grandes empresas, principalmente filiais de companhias brasileiras no exterior. Segundo a Reuters, parte dos funcionários que trabalhava no setor de varejo será deslocada para assessorar essas grandes empresas e clientes estrangeiros interessados em projetos de infraestrutura no Brasil.

“Defendemos que o banco tenha a preocupação de atender grandes empresas e projetos de investimentos. Contudo, o banco cada vez mais se assemelha a qualquer instituição privada, que não tem preocupação em atender a população como um todo, mas tão somente um certo nicho de mercado. Fecham principalmente agências em cidades do interior e bairros populares, as que atendem os mais pobres e o varejo em geral. E abrem agências digitais ou canais de atendimento para grandes empresas e pessoas que possuem muito dinheiro”, criticou o presidente do Sindicato da Bahia.

No fim de 2016, a nova diretoria do banco anunciou a o projeto de fechar ou reduzir cerca de 800 agências no Brasil, além de ter dado início a um programa de demissão voluntária. Até o momento, 400 agências já foram fechadas. E, nos dois últimos anos, 14 mil postos de trabalho foram fechados. Tudo isso que prejudica a população e afeta o desenvolvimento do país.

“Está em curso uma tentativa de desmonte do Banco do Brasil, visando o seu enfraquecimento com objetivo de retirá-lo da concorrência com os bancos privados. Ao mesmo tempo, enfraquecem as políticas sociais e de desenvolvimento adotadas pelo banco. Vemos isso com o fechamento de agências, a redução de oferta de crédito para agricultura, a diminuição de postos de trabalho”, lamentou Augusto Vasconcelos.