Tratar recursos para educação como gasto é abdicar do projeto de nação

Durante o Seminário de Educação Pública: Desenvolvimento e Soberania Nacional, realizado nesta segunda-feira (9), em Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Luiz Inácio Lula da Silva repeliu a agenda de desmonte do estado social implementada por Michel Temer e reforçou que o país não vai encontrar o caminho do desenvolvimento se não investir em educação.

Lula em seminário sobre educação - Ricardo Stuckert

“A hora que você passa a ideia de que investir em educação prejudica o orçamento do país, você abdica de construir uma nação. Pode construir um monte de gente, mas não uma nação que pressupõe soberania”, afirmou Lula.

Para o ex-presidente, a elite brasileira ainda vive no conceito oligarca de que a “universidade e educação são coisas para gente fina, para pessoas que moram na casa-grande”.

“Na senzala, eles têm que trabalhar, comer mal e viver mal. Só a elite pode estudar. É a única explicação para nunca terem feito universidades em cidades como Osasco, Guarulhos, Santos e no ABC”, disse.

“A universidade, que sempre foi tratada como gasto pela elite, passou a ser, em nosso governo, lugar de sonhos. Passamos a perceber que as pessoas entendiam a universidade como fábrica de conhecimento que gera mais oportunidades e empregos do que fábricas. (…) Esse país tratava tão mal a educação que, quando aprovamos um piso salarial de R$ 950 para professores, mais de nove governadores não aplicaram na época”, resgatou o ex-presidente.

Em tom de ironia, Lula destacou que investimento é uma decisão política e citou um caso ocorrido logo quando assumiu a Presidência, em que o soldado do Exército era liberado às 11 horas, porque não tinha dinheiro para a comida. “Os soldados eram liberados porque não tinha almoço. Imagina se o Paraguai soubesse disso. Teriam invadido o Brasil depois do almoço”, brincou.

“Tenho orgulho de ter cumprido o investimento de R$ 41 bilhões na ciência e tecnologia. Acreditávamos que este era o caminho para um país que sonhávamos. Não basta ter riqueza, esse país tem que ter vergonha na cara e se respeitar. É disso que esse país precisa. Quando a elite fica quatro anos em Paris estudando isso é investimento. Quando criamos o Ciências sem Fronteiras era gasto”, disse.

Soberania e entreguismo

Lula defendeu que o Brasil precisa se desenvolver de forma autodeterminada. “A turma dos golpistas está feliz dizendo que está entrando investimento estrangeiro no país. É mentira. O que está vindo para o Brasil é dinheiro para comprar ativos prontos. Nós gastamos muito para produzir e eles estão entregando de graça. É o desmonte na Petrobras, na Lei da Partilha, no passaporte para o futuro que era o pré-sal. Estão rasgando esse passaporte”, disse.

“Quando fui candidato em 1989 e 1994 tinha que viajar o mundo para conversar com representantes do setor financeiro. Jovens bem vestidos e bonitos que não paravam de criticar a Bolívia. E quando houve a crise de 2008 nenhum deles teve coragem de abrir a boca para falar como consertar a economia. Eles que quebraram a economia vendendo papel e comprando papel sem produzir um parafuso; essa gente que agora conversa com o Bolsonaro [deputado Jair Bolsonaro – PSC-RJ]”, disse sobre recente visita do parlamentar aos Estados Unidos.

“Li uma notícia na Folha [Folha de S. Paulo] que diz que declarações de Bolsonaro agradaram o mercado. Vou dizer que se o Bolsonaro agrada o mercado, nós temos que desagradar. Não é possível. A economia brasileira não vai mais ficar subordinada a setores rentistas, vamos ter que nos focar em produção. Se querem ganhar dinheiro, que vão trabalhar, produzir, colher e vender”, completou o ex-presidente.

Por fim, Lula afirmou ter orgulho do que o seu governo e da presidenta Dilma fizeram pelo país, mas que ainda considera pouco. “Quero dizer para os letrados que governaram esse país: sintam vergonha. Um torneiro mecânico pensou mais em educação do que vocês. Temos que defender nosso legado porque tem muita gente de fora da educação que não sabe o que foi feito nesse país. Temos que contar”, disse.