Maia: “Não fiz com eles o que eles fizeram com Dilma”

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), falou sobre sua atual relação com o PMDB, pretensões políticas e sua possível recondução à Presidência da Câmara, entre outros assuntos.

Maia - Reprodução da Internet

De acordo com o parlamentar, que recebeu a equipe do jornal em sua casa, os boatos sobre a intenção de ocupar o Palácio do Planalto definitivamente, num ato de “traição” a Temer, à época da primeira denúncia, deu início à tensão entre PMDB e DEM, que perdura até hoje.

“Não fiz com eles o que eles fizeram com a Dilma. Talvez por isso essas mentiras criadas, para tentar criar um ambiente em que eu era o que não prestava e eles eram os que prestavam. Como eles fizeram desse jeito com a Dilma, talvez imaginassem que o padrão fosse esse. O meu padrão não é o mesmo daqueles que, em torno do presidente, comandaram o impeachment da presidente Dilma”, afirmou Maia ao jornal.

Desde que chegou a nova denúncia na Câmara contra Temer, Maia tem repetido que não se manifestará para não ser “mal interpretado” pelo Planalto. A aliança entre as legendas, no entanto, continua abalada. Isso porque Maia ainda se ressente da ação do PMDB de filiar deputados almejados pelos democratas.

De acordo com a reportagem do Valor, Temer teria tentado atenuar o abalo na relação num jantar pedido pelo peemedebista no dia 18 de julho – horas depois de vazar na imprensa a visita do presidente à casa da líder do PSB na Câmara, Tereza Cristina (MS), para tentar atrair para o PMDB os parlamentares que apoiam as reformas do governo rechaçadas pelo PSB, já que saiu da base.

“A visita de Temer teria como missão evitar a migração desses deputados para o DEM, o que fortaleceria o grupo de Maia. Bezerra Coelho acabou indo para o PMDB, articulação que Maia qualifica de um deboche com um aliado”, descreve a reportagem.

Estabilidade por um fio

À equipe do jornal, Maia afirmou, sem meias palavras, que “se tivesse deixado o DEM sair com o PSDB, Michel tinha caído”, em referência à votação da primeira denúncia por corrupção passiva contra o presidente da República, analisada em agosto deste ano pela Câmara.

“Como o presidente do PMDB e o próprio presidente da República falam uma coisa e o partido faz outra? E os ministros Moreira Franco [Secretaria-Geral] e Eliseu Padilha [Casa Civil] vão à filiação do Fernando Coelho respaldar que aquilo ali é uma posição do governo? Eles são muito corajosos”, disse.

Homem forte de Temer, Moreira Franco tem entrada livre na casa de Maia. Isso porque Patrícia, mulher de Maia, é filha do primeiro casamento de Clara Torres, mulher do ministro. A relação familiar também ajuda na manutenção da “paz” política. Segundo Maia, quando ele tem um problema com o governo é Moreira Franco quem aparece para “acalmar a relação”.

Disputa presidencial

Com a proximidade das eleições, as articulações políticas têm se intensificado. E o DEM, segundo a reportagem, tem buscado um nome de centro-direita para anunciar.

“Um dia após esse almoço, a cúpula do DEM jantou na casa do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), no Jardim Europa. (…) Crítico da ação do PMDB com os dissidentes do PSB, Maia é cuidadoso ao comentar as relações com os aliados e a possibilidade de assédio para levar quadros de outras legendas para a disputa de 2018. ‘Doria é nosso amigo, mas está no PSDB’”, descreve a reportagem.

“O nosso combinado, dentro da direção do DEM, com o presidente Agripino, é que não iríamos tentar tirar parlamentar de partido da base. O movimento de alguns parlamentares do PSB é porque o partido foi para oposição e eles continuam na base”, explicou Maia.

Na avaliação do presidente da Câmara, em 2018, a polarização PT-PSDB vai acabar, pois “o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve radicalizar o discurso à esquerda, e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), à direita, mas há uma demanda da sociedade pelo diálogo”, diz.

Cunha e a presidência da Câmara

Na entrevista, Maia afirmou que ex-presidente da Câmara e hoje presidiário Eduardo Cunha (PMDB-RJ) o ajudou muito a se reintroduzir na roda do poder. Depois que assumiu o comando da Casa, Cunha deu espaços importantes ao democrata, como a presidência e a relatoria da reforma política costurada por Cunha, e de projeto que pretendia mudar a correção das contas de FGTS.

Segundo Maia, o problema entre os dois começou quando Temer tornou-se presidente e Maia se tornaria líder do governo se não fosse intervenção de Cunha – já preso em Curitiba. “Aí eu me afastei dele.”

O parlamentar acabou, então, assumindo a Presidência da Câmara – cargo ao qual pretende ser reconduzido.

“Estou bem com a base, com a oposição, estou bem com todo mundo. E não vai ter ministro meu porque eu não vou ser presidente”, concluiu.