Sob gestão Alckmin, escolas estaduais vivem escalada da violência

Pesquisa da Apeoesp mostra que regiões pobres concentram as escolas mais violentas. O quadro confirma a ausência de políticas públicas para as populações que mais necessitam.

Alckmin - ARQUIVO/GOVERNO DE SP

Estudantes, pais e professores têm a percepção de que as escolas da rede estadual paulista estão ainda mais violentas do que já estavam no período entre o final de 2014 e o começo de 2015. Mais de 80% deles já ouviram falar de casos de violência nas suas escolas. E passa dos 800 mil o número de estudantes e de 104 mil o de professores em todo o estado que já sofreram algum tipo de agressão dentro dos estabelecimentos onde vão para aprender ou para ensinar.

Os dados são de um estudo sobre violência nas escolas realizado pelo Instituto de Pesquisas Locomotiva, que o Sindicato dos Professores no Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) divulgou na tarde de hoje (27).

A percepção dos pais, alunos, professores e população em geral que participou da sondagem é de que há uma escalada da violência nas escolas da rede pública sob o governo de Geraldo Alckmin (PSDB).

Dos professores ouvidos, 51% já sofreram pelo menos um tipo de agressão. E entre os alunos, 39%. Os números são maiores do que os de uma outra pesquisa realizada entre o final de 2013 e início de 2014, realizada pelo Instituto Data Popular, que apontou 44% e 28%, respectivamente.

O percentual dos professores que classificavam suas escolas como violentas saltou de 57% para 61%.

Os percentuais são crescentes também em relação aos casos de violência nas escolas que chegaram ao conhecimento dessa comunidade. Dos docentes, 85% souberam desses casos, e entre os estudantes, 80% – bem acima dos 84% e 77% colhidos na pesquisa anterior.

As escolas estaduais passaram a ser classificadas como violentas para 61% dos professores – índice que era de 57% em 2013/14.

O conjunto dos entrevistados classifica suas escolas como violentas, e também mais violentas que a da rede particular. População, pais e estudantes apontam drogas, conflito entre estudantes e falta de policiamento como principais causas da violência. Professores são os únicos a citar “educação em casa”.

Para a população ouvida, entre pais e estudantes, as drogas, os conflitos entre estudantes e a falta de policiamento são as principais causas da violência. Já os professores atribuem à falta de “educação em casa”.

Medo

O presidente do instituto Locomotiva, Renato Meirelles, afirma que embora os dados não surpreendam, são preocupantes. Primeiro porque a violência na escola afeta a relação ensino e aprendizagem. "Como é possível aprender e ensinar com medo de sofrer alguma agressão?", questionou.

Outro aspecto, segundo ele, é o aprofundamento das desigualdades educacionais e sociais em um espaço que tem o papel de nivelar as condições de oportunidades ao constituir uma plataforma para melhoria da qualidade de vida.

"Se a educação serve para reduzir as desigualdades, percebemos que as periferias, onde estão os pobres e negros, são as que mais sofrem. As escolas localizadas nessas regiões são as que mais sofrem. E a desigualdade se combate investindo mais em políticas para quem precisa mais. Essa percepção de violência nessas escolas significa que os melhores professores são desestimulados de ir lecionar nessas escolas pelo medo que sentem. São escolas que geralmente fecham mais cedo, com menos tempo de aula. E os estudantes, também com medo, acabam desistindo de estudar e a escola deixa de cumprir seu papel de espaço para a redução de desigualdades."

Meirelles lembrou que é não é à toa que a evasão escolar é maior na periferia do que nas regiões mais centrais – regiões que historicamente já recebem mais investimentos em políticas sociais apesar de não concentrar a população mais necessitada desses investimentos.

O coordenador da pesquisa entende ainda que, se é verdade que a violência no entorno da escola tem impacto na violência em sala de aula, intramuros escolares a violência não será resolvida com políticas de segurança.

"Ou se enfrenta esses números com o debate sério ou esses dados vão aumentar. Quem os coloca para debaixo do tapete, fingindo que está tudo bem, é cúmplice dessa situação que põe em risco os jovens e as gerações futuras, que crescem e passam pela escola sem nunca ter tido uma educação de qualidade", disse, alfinetando o governador Alckmin, que de posse dos dados da pesquisa anterior não tomou quaisquer providências para reduzir a violência nas escolas. Pelo contrário, retirou projetos educacionais voltados à juventude e à paz nas escolas.

Abandono

Para a presidenta da Apeoesp, Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, o quadro reflete os anos de abandono dos governos do PSDB. "Não é só o abandono dos prédios escolares, mas o abandono das pessoas, da população", disse.

A dirigente observa que o aumento da violência coincide com o período de adoção de política de fechamento de salas de aula e de desmonte de políticas voltadas aos jovens nas escolas, entre elas, a presença do professor mediador de conflito.

"Quando um professor tem de lecionar em cinco escolas, dando mais de 50 aulas por semana, o que o leva ao adoecimento, não tem condições sequer de saber o nome de cada aluno. E, muitas vezes, esse aluno que se sente um número no diário de classe acaba se sentido agredido pelo professor", disse.

Para todos os entrevistados, só investimentos em cultura e lazer e policiamento podem solucionar o problema da violência nas escolas. Professores destacam “debates sobre o tema”.

A Apeoesp e o Instituto de Pesquisas Locomotiva vão apresentar, na próxima semana, pesquisa detalhada sobre a qualidade do ensino na rede estadual paulista. "Vamos pegar todos esses dados e bater na porta da Secretaria da Educação. Além disso, vamos debatê-los também nas escolas. A sociedade tem de tomar conhecimento para se juntar à essa luta", disse Bebel.