Privatização ameaça papel social dos Correios, afirma sindicalista

“As grandes empresas estão de olho em entregar encomendas nas capitais. Os correios fazem um papel de serviço social que a empresa privada não vai fazer entregando correspondência em pequenos municípios, cidades ribeirinhas, na selva”, ressaltou Ronaldo Martins, presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas dos Correios e Telégrafos no Rio de Janeiro. Semana passada, foi divulgado que a privatização dos correios está em estudos pelo governo de Michel Temer.

Por Railídia Carvalho

Correios atuam em regiões remotas - CC Wikimidia/ B. Jardim

Segundo Ronaldo, que também é dirigente da Federação Interestadual dos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findect), os correios atendem, por exemplo, à uma população que não tem acesso à internet.

“Estamos nos mais de cinco mil municípios levando correspondência àquela população que não tem internet para pagar a conta, que recebe pelos correios o contracheque da pensão, recebe a conta de água, de luz e outras”, exemplificou o sindicalista.

Também é responsabilidade do Correios a distribuição de livros didáticos e das provas do Enem. O Banco Postal, que funciona em agências dos Correios de 1.600 municípios do país, permite o acesso de milhões de brasileiros ao serviço bancário.

Ronaldo lembrou a importância dos serviços dos Correios, assim como o do setor elétrico, para a soberania nacional. A Privatização da Eletrobras foi anunciada no final de agosto. Infraero e Casa da Moeda também estão no pacote.

O governo Temer ainda pressiona pela privatização de companhias de saneamento básico, água e esgoto, como é o caso da Cedae, em contrapartida pela renegociação da dívida do Rio de Janeiro.

“Os correios estão em todo o território brasileiro, presente nos cinco mil municípios. Mesmo nos rincões mais distantes você vai encontrar um trabalhador dos correios de bicicleta, a pé ou de moto. É um setor essencial para o país”, enfatizou o dirigente.

De acordo com ele, não é de interesse das empresas privadas de encomenda entregar cartas simples. “Só querem as grandes encomendas, sedex, as que vem de compras pela internet. Esse é o grande filão mas para entregar nas grandes capitais”, explicou Ronaldo.

Ele denuncia que a privatização vai gerar desemprego, retirada de direitos e queda na qualidade do serviço. “È uma luta diária e que no governo Temer não é uma exclusividade dos correios. No governo FHC tentaram privatizar os correios e os trabalhadores barraram. Estamos novamente de prontidão”.

“O correio não é só uma empresa do ponto de vista da lucratividade, tem papel social: completou 354 anos de serviço à população, tem um lastro de história com o povo brasileiro que é muito grande”, avaliou Ronaldo.