”A crise na UERJ é a ponta de lança da crise da universidade pública”

 Ricardo Lodi, diretor da Faculdade de Direito da UERJ participou do Lançamento da Campanha e Manifesto em defesa da Educação Pública e Gratuita, durante o Seminário de Gestão da UNE, em São Paulo.

Ricardo Lodi, diretor da UERJ - UNE

Na tarde do último sábado (23), o Seminário de Gestão da UNE, que acontece em São Paulo neste final de semana, saiu em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade e recebeu convidados influentes na luta pelo ensino superior. Ricardo Lodi, diretor da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) esteve presente e conversou com o site da UNE sobre a crise que assola uma das maiores universidades públicas do país.

”A crise na UERJ é a ponta de lança da crise da universidade pública, mas é claro que há solução. A solução depende da capacidade das pessoas envolvidas, estudantes, professores, funcionários de carrear recursos do orçamento pra universidade como tem sido feito nas últimas décadas no Brasil”, avalia.

Confira a entrevista na íntegra:

Existe solução para a crise da UERJ e na universidade pública como um todo?

Eu acho que as duas coisas estão umbilicalmente ligadas. A crise na UERJ é a ponta de lança da crise da universidade pública, mas é claro que há solução. A solução depende da capacidade das pessoas envolvidas, estudantes, professores, funcionários de carrear recursos do orçamento pra universidade como tem sido feito nas últimas décadas no Brasil. Com o golpe de 2016 há uma reversão desse quadro. É preciso fazer com que esses recursos voltem paras as universidades.

Algumas medidas sugeridas pelo Tesouro Nacional no parecer sobre o acordo de recuperação fiscal do estado do Rio indicam a "revisão da oferta de ensino superior". Qual sua opinião sobre essa sugestão?

É lamentável, mas esse parecer não tem a força que se pensa. Na verdade ele apenas revela qual é a ideia do governo federal. Eles não tem apreço pelo ensino superior gratuito. Essa é uma das facetas mais perversas do golpe: o fim do estado social, em especial na educação e saúde. Alimenta-se esse discurso de que a educação pública tem que ser só no ensino básico, como se o Brasil pudesse se transformar em um país meramente exportador de matérias primas sem uma mão de obra especializada, sem a ciência e tecnologia que só a universidade pública proporciona.

Com o desmonte da UERJ e o sucateamento de tantas outras universidades estaduais vemos crescer movimentos de resistência no meio estudantil e também entre professores e funcionários. Qual a importância desses movimentos na defesa da universidade pública?

É fundamental. Se isso não acontecer a ”vaca vai pro brejo”. Se não houver uma grande mobilização agora depois a gente vai chorar sobre o leite derramado. Um dos caminhos que o o movimento ”Resiste UERJ” vislumbra o décimo orçamentário (repasse de verba garantido pela lei orçamentária) na Constituição do Estado do Rio de Janeiro. Na prática, é garantir que os recursos orçamentários cheguem na UERJ, o que hoje não está acontecendo.

Qual seria o impacto, no estado e no país, caso a UERJ seja extinta?

Bom, pro estado do Rio de Janeiro seria um desastre. A UERJ é o principal foco de produção científica no nosso estado. Pro Brasil seria a ponta do iceberg. Seria a primeira peça do dominó que uma vez derrubada, levaria ao fim de todo o sistema de educação pública, gratuita, de excelência e referenciada socialmente.