Invasão de militares a PUC-SP completa 40 anos

Em 22 de setembro de 1977, milhares de soldados imprimiram uma truculenta ofensiva contra estudantes e professores da instituição.

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Foi uma loucura que salvou o jornalista José Arbex da prisão, 40 anos atrás, quando cerca de 3 mil policiais civis e militares, apoiados por carros blindados, invadiram o campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na Zona Oeste da capital paulista.

"Eu vi os soldados chegando, vi que todo mundo começou a correr para o fundo, desceu a rampa, procurando o primeiro, segundo e terceiro andar e eu tomei uma decisão completamente maluca, caminhei na direção da polícia. Passei no meio da tropa", recorda.

Arbex, à época com 20 anos, era aluno da Poli-USP, e participava de uma assembleia, na frente do teatro da universidade, o TUCA, para tratar da reorganização da União Nacional dos Estudantes, desarticulada pelos militares em 1968, com a prisão de seus dirigentes em Ibiúna, interior de São Paulo, e da realização do 3º Encontro Nacional dos Estudantes, proibido pelo regime um dia antes.

Cerca de 2 mil estudantes e apoiadores estavam reunidos, quando por volta das 20 horas uma tropa de soldados, liderada pelo coronel do Exército Antônio Erasmo Dias, então secretário da Segurança Pública de São Paulo, imprimiu uma das mais graves ofensivas da ditadura cívico-militar (1964-1985) contra uma universidade.

Acuados por bombas de gás lacrimogênio, choques elétricos e cassetadas, os estudantes correram para dentro da universidade em busca de refúgio. Os soldados invadiram o prédio, depredaram salas de aula e de professores, destruíram a mobília, máquinas de escrever, rasgaram livros, material didático e picharam as paredes com as iniciais CCC – Comando de Caça aos Comunistas, grupo paramilitar de ultradireita.

Eles acuaram os alunos na rampa, que encurralados não tinham alternativa a não ser correr para dentro da universidade", lembra Ana Bock, professora na Faculdade de Psicologia da PUC desde então. "Chegamos a fazer um coro, pedindo calma, mas os soldados entraram no prédio e tiraram professores, alunos e funcionários brutalmente de todas as salas", completa.


A tropa fez ouvidos moucos e não escutava nem olhava ninguém. Bock e Arbex destacam entre suas memórias mais marcantes o olhar dos soldados. "Eles olhavam atravessado, não viam nossos rostos, nossos olhos", diz Bock. "A primeira coisa que me vem à cabeça é o aspecto brutal deles, a cena dos caras entrando em formação, batendo o cassetete e com o olhar fixo", lembra Arbex.

Seis estudantes sofreram queimaduras, 900 foram detidos e confinados em um estacionamento na Rua Monte Alegre, esquina com a Bartira, em Perdizes, e depois conduzidos ao Batalhão Tobias de Aguiar. Destes, 42, foram fichados, enquadrados na Lei de Segurança Nacional, instrumento jurídico usado pelo regime para perseguir adversários.

Para a professora Ana Bock, a ação não foi contra os estudantes, mas contra a própria universidade. "Hoje eu tenho muito claro que a agressão foi a PUC, qualquer pequena ação, um olhar torto, um andar fora da linha era motivo para levar cassetada", diz. "Mas aquilo não me feriu nem na alma e, hoje, estamos rememorando a invasão e comemorando a resistência".

Na época, a PUC – SP e Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal-arcebispo de São Paulo, participavam ativamente da luta pelo fim da ditadura. Ao retornar de Roma, um dia depois da invasão, Arns deu uma declaração contundente sobre o episódio: "Na PUC só se entra prestando exame vestibular. E só se entra na PUC para ajudar o povo, não para destruir as coisas."

Homenagem

Na última segunda-feira 18, a universidade diplomou cinco estudantes da instituição que morreram ou desapareceram durante a ditadura. A homenagem fez parte de uma programação organizada pela PUC-SP para lembrar a data.

Foram diplomados Carlos Eduardo Pires Fleury, curso de Direito; Cilon Cunha Brum, economia; José Wilson Lessa Sabbag, direito; Luiz Almeida Araújo, ciências sociais) e Maria Augusta Thomaz, filosofia. Os diplomas foram entregues a parentes do homenageados.