Entidades empresariais criticam esvaziamento do BNDES

Antigas aliadas das forças que deram o golpe, entidades empresariais ligadas à infraestrutura condenaram a decisão do governo Temer de exigir a devolução de recursos do BNDES ao Tesouro. Para José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Fiesp e diretor do departamento de Competitividade e Tecnologia, ao olhar apenas a questão fiscal, o Ministério da Fazenda restringe a capacidade de investimento na economia.

BNDES

O diretor da área financeira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Tadeu de Freitas, confirmou nesta quinta (21) que, a pedido do governo, o banco vai devolver antecipadamente ao Tesouro R$ 50 bilhões neste ano.

A devolução, que restringe ainda mais a capacidade de financiamento do banco, será feita em duas parcelas – a primeira, de R$ 33 bilhões, na semana que vem; a outra, de R$ 17 bilhões, no próximo mês.

"Para sair da crise, o setor privado precisa modernizar o parque industrial, investir em processos e equipamentos. E, sem o BNDES, como as empresas vão fazer isso?", questionou José Ricardo Roriz Coelho, em reportagem de O Globo. 

"No mundo inteiro, há essa busca pela manufatura avançada, e estamos caminhando no sentindo inverso. Para resolver um problema fiscal, o governo está comprometendo a capacidade de investimentos. Se não tiver recursos para induzir a melhora na infraestrutura e na modernização da indústria, o país não voltará a crescer e comprometerá a arrecadação no futuro", completou.

Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Base e Infraestrutura (Abdib), Venilton Tadini, na falta de ações efetivas de corte de gastos, o governo opta equivocadamente por restringir ainda mais os investimentos.

"Quem vai financiar a infraestrutura? O setor privado? Quem vai financiar a retomada da indústria? As empresas não têm capacidade de investimento para sustentar esse crescimento que o Brasil necessita. Estão colocando o BNDES em um papel secundário no desenvolvimento do país", disse.

De acordo com José Velloso, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a ausência de recursos para investimentos tira a capacidade de o país sustentar a retomada da atividade. "Vamos ter um voo de galinha", previu. 

O diretor da área financeira do BNDES disse que a demanda do governo federal para que o banco devolva outros R$ 130 bilhões aos cofres públicos em 2018 ainda está sendo negociada. No início do ano, o banco já havia enviado de forma antecipada mais R$ 100 bilhões à União.