Ambientalistas questionam fala de Temer na ONU sobre desmatamento

Dados apresentados pelo presidente sobre queda do desmatamento na Amazônia são considerados contraditórios e desconhecidos: "ações do governo vão na contramão do discurso"

Movimento resista - REPRODUÇÃO/TVT

Representantes de mais de 150 organizações da sociedade civil reunidos no movimento reunidos no movimento #Resista realizaram um protesto nesta terça-feira (19) em Brasília contra o desmonte promovido pelo governo Michel Temer em relação às questões ambientais e dos direitos dos povos indígenas.

Eles afirmam que as declaração do presidente em discurso na abertura da 72ª Assembleia Geral da ONU, em que afirmou que o desmatamento na Amazônia vem caindo, não condizem com as ações tomadas pelo seu governo, que tem atuado para liberar a mineração em áreas de floresta e busca, no Congresso, flexibilizar as regras do licenciamento ambiental para atividades agropecuárias, dentre outras ações danosas ao meio ambiente.

"O desmatamento é questão que nos preocupa, especialmente na Amazônia. Nessa questão temos concentrado atenção e recursos, pois, trago a boa notícia de que os primeiros dados disponíveis para o último ano já indicam a diminuição de mais de 20% do desmatamento naquela região", disse Temer.

A coordenadora do programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA), Adriana Ramos, diz que a declaração do presidente não se baseia em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do governo que monitora o desmatamento. "Que ele divulgue primeiro os dados oficiais para que então possa se manifestar em cima disso”, diz a ambientalista ao repórter Uélson Kalinovski, para o Seu Jornal, da TVT.

O #Resista – que tem a participação do ISA, do Greenpeace, dentro outros movimentos – também divulgou uma carta aberta ao governo e à sociedade em que afirmam que os avanços socioambientais conquistados pelo Brasil nas últimas décadas "vêm sendo sumariamente desmantelados".

"As iniciativas retrógradas deste governo incluem redução e extinção de áreas protegidas; paralisação das demarcações de terras indígenas, quilombolas e da reforma agrária; enfraquecimento do licenciamento ambiental, ataque à soberania e aprofundamento da insegurança alimentar e nutricional; tentativas de desregulamentação e liberação de agrotóxicos ainda mais agressivos à saúde da população e ao meio ambiente; venda de terras para estrangeiros; anistia a crimes ambientais e a dívidas do agronegócio; legalização da grilagem de terras; supressão de direitos de mulheres, de povos e comunidade tradicionais, populações camponesas, trabalhadores e trabalhadoras rurais e urbanos; e liberação de áreas de floresta para a exploração mineral", diz um trecho do documento.

As declarações polêmicas do presidente Temer repercutiram também no Congresso Nacional. "Na verdade, ele não só mantém o desmatamento, como quer vender a Amazônia. Quer doar a Amazônia para as mineradoras estrangeiras. Esse governo não é confiável nem nos números e nem nas ações”, disse a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), fazendo alusão ao decreto que extinguiu a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), que acabou sendo suspenso pelo próprio governo, depois de intensa reação negativa da opinião pública.