Metalúrgicos ganham protagonismo no combate à reforma trabalhista

Na opinião do consultor e jornalista, Marcos Verlaine, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o movimento Brasil Metalúrgico é atualmente a iniciativa do movimento sindical que pode se contrapor à reforma trabalhista de Temer. “Se com a CLT que protegia o trabalhador havia resistência do empresário agora se agrava com a lei que desequilibra para o empregador”, comparou Verlaine.

Por Railídia Carvalho

Brasil Metalúrgico em SP - reprodução do site da força sindical

Após o êxito do ato nacional de 14 de setembro, o jornalista projeta que a plenária nacional da categoria que acontecerá no dia 29 de setembro ganha força. Ainda segundo ele, a posição dos metalúrgicos deve influenciar a organização de outros segmentos de trabalhadores.

O período de campanha salarial do setor metalúrgico, que acontece neste segundo semestre, é o terreno para a mobilização unitária de sindicatos, federações e confederações metalúrgicas ligadas a todas as centrais sindicais do país.

Negociação sem garantias

Verlaine (foto) observou que negociar com o patrão sob as regras da nova lei trabalhista vai ser como um trapezista atuar sem a rede de proteção embaixo. “O trabalhador sabe que se der qualquer coisa errada tem a rede de proteção lá embaixo, no caso é a CLT. Mas o ambiente da nova lei coloca o trabalhador em um ambiente de negociação sem nenhuma garantia”.

“Por isso o movimento dos metalúrgicos é relevante. É um movimento piloto que demonstra que há saída. Desde que as entidades se unam que tentem pactuar em um quadro que está todo mundo junto. Foi uma mudança para o conjunto da classe trabalhadora”, completou o jornalista.

Maturidade do movimento

A articulação unitária dos metalúrgicos, com vistas à construção de um contrato nacional, a exemplo dos bancários, é um dos pontos positivos destacados por Verlaine. Segundo ele, esse pacto de entidades com matizes ideológicas diversas mostra a maturidade e o movimento consciente da categoria.

“O primeiro aspecto é a postura altiva dos metalúrgicos em relação à pauta da campanha salarial, que se realiza atualmente diante da novidade de uma nova lei trabalhista. O segundo aspecto é não naturalizar a nova legislação. O que os metalúrgicos estão fazendo é discordar, confrontar e negar a lei que retira direitos e tentando uma negociação minimamente equilibrada”, analisou.

Setembro metalúrgico

No dia 14 de setembro, metalúrgicos de todo o país responderam ao chamado das entidades da categoria e realizaram paralisações, greves e atos em todo o país. Ignorado pela grande imprensa, o movimento teve total cobertura da imprensa sindical e repercutiu nas redes sociais. “Os metalúrgicos fazendo um movimento nacional unificado podem estimular categorias que tem caráter nacional. Os sindicalistas estão refletindo sobre o que aconteceu”, projetou Verlaine.

Na opinião do jornalista, “O dia 14 foi uma demonstração de força, de tomada de consciência. Foi exitoso no primeiro momento, a tendência é aumentar e ampliar. É um estímulo para a agenda que as entidades construíram que desemboca em novembro, quando vários estados tem a sua data base”.

Exemplo

A história da luta metalúrgica em defesa dos direitos e o acúmulo político das direções sindicais é o que, na opinião de Verlaine, fez os metalúrgicos saírem na frente na apresentação de alternativas para se contrapor à conjuntura adversa.

“O Brasil metalúrgico também é fruto da própria crise que impõe uma reflexão mais profunda. É fruto de um olhar crítico sobre a maneira de atuar do movimento sindical que chegou à conclusão que essa atuação fragmentada não produz os melhores resultados. É acúmulo político das lideranças que saem na frente e , na minha opinião, um exemplo a ser seguido”.