A história dos parlamentares comunistas em Pernambuco

A notícia da Revolução Russa ocupa apenas um canto de página na edição do Diario de Pernambuco de nove de novembro de mil novecentos e dezessete. Os jornalistas da época não imaginariam que, cem anos depois, a chegada ao poder dos comunistas na terra dos czares continuaria a influenciar a política em todo o mundo, inclusive em Pernambuco. 

Luciano Siqueira: Duas pedras no caminho - Divulgação

Na primeira eleição para a Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe) em que disputaram, em mil novecentos e quarenta e seis, os comunistas conquistaram nove cadeiras. O mais votado entre eles foi David Capistrano, um cearense que havia lutado na Guerra Civil Espanhola e na resistência contra os nazistas na França.

De acordo com o jornalista Marcelo Mário de Melo, autor da biografia do ex-parlamentar publicada pela Alepe, a atuação dos comunistas nessa época foi marcada pela luta em defesa da democracia e dos direitos trabalhistas. “Você tinha saído de uma ditadura, não é? Então a participação da bancada comunista foi muito no sentido de respeito às liberdades democráticas. Por exemplo: o hábito de o delegado mandar prender em casa, invadir sindicato, invadir jornal. A exigência de ter a ordem judicial. Isso aí fazia uma diferença muito grande naquela época.”

Além de David Capistrano, o Partido Comunista elegeu operários, profissionais liberais, comerciantes e até uma dona de casa: Adalgisa Cavalcanti, primeira mulher a ocupar uma cadeira no parlamento estadual. Mas, a atuação dos comunistas na Alepe teve duração curta. Em mil novecentos e quarenta e sete, o registro do partido foi cancelado.

A perseguição aos comunistas se acentuou com o golpe militar em mil novecentos e sessenta e quatro. Mas, apesar do cerco, eles continuaram a atuar em organizações clandestinas ou no interior de outros partidos. O vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, hoje filiado do PC do B, foi eleito para a Alepe em mil novecentos e oitenta e dois pelo PMDB, o único partido de oposição permitido na época. Mesmo em outra legenda, ele lembra que o programa do partido era a base do mandato.

“Procurei exercê-lo ao modo dos parlamentares comunistas, ou seja, com um pé na Assembleia e outro na rua, vale dizer, participando ativamente dos debates parlamentares e na construção das proposições no âmbito parlamentar examinando cada assunto, por mais particular que fosse, à luz do programa partidário e da linha política do meu partido.”

Com o retorno dos partidos, os comunistas, agora dispersos em várias legendas, voltaram a disputar cadeiras da Alepe. Nunca conseguiram repetir o resultado de mil novecentos e quarenta e seis. Nos anos noventa e dois mil, passaram pela Alepe, pelo PCB, Byron Sarinho, e, pelo PCdoB, Luciana Santos, Nelson Pereira e Luciano Moura. Em dois mil e dez, Luciano Siqueira volta à Alepe, agora pelo PCdoB.

Na última eleição, em dois mil e catorze, nenhum partido comunista conseguiu representação na Alepe. Mas, eles continuam em atividade. Para Luciana Santos (foto acima), agora deputada federal por Pernambuco e presidente nacional do PCdoB, a prioridade atual dos comunistas é barrar as reformas do Governo Temer. “As principais tarefas de um comunista na atualidade é resistir contra uma agenda que está sendo imposta ao país. Imposta porque existe um programa de governo em curso que não foi um programa que tenha passado por uma eleição.”

E cem anos depois da Revolução Russa, os ideais de Karl Marx e companhia continuam a atrair seguidores nas universidades, sindicatos e movimentos sociais. Para o pesquisador Túlio Velho Barreto, isso se deve à força da mensagem comunista. “A utopia continua. Uma utopia pela igualdade, uma utopia pelo respeito ao ser humano, a um tratamento igualitário entre as pessoas, o fim dessa desigualdade entre as pessoas estabelecidas a partir das classes sociais. Quer dizer, esse é um apelo muito forte.”

Publicado originalmente no site da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe).

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