Por moradia decente, 20 mil pessoas ocupam terreno em São Bernardo

 Em uma das maiores ocupações realizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), mais de 20 mil pessoas ocupam uma área de 60 mil metros quadrados no bairro do Planalto em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Por Marcos Aurélio Ruy*

Ocupação MTST em São Bernardo - Mídia Ninja

A reportagem do Portal CTB visitou o local na manhã desta quarta-feira (13) e constatou o gigantismo da ocupação, batizada de Povo Sem Medo. “Até agora já foram cadastradas cerca de 6.500 famílias, mas esse número não para de crescer”, diz Maria das Dores Siqueira, coordenadora nacional do MTST.

Ela explica que com o processo de extinção do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, a situação “dos mais pobres só piora”. Somente em São Bernardo são 92.216 famílias sem teto, contabiliza a ativista.

Um casal de idosos conta que aderiu à ocupação porque “o aluguel está muito caro e todo mundo sonha em ter um cantinho seu”. Eles reclamam da possibilidade de serem desalojados sem negociação. Outro ocupante, que também não quis se identificar, afirma estar desempregado e sua família pode ser despejada a qualquer momento, por isso "estamos aqui para conquistar nossa casa própria".


Maria Siqueira trabalha para evitar um novo massacre (Crédito: Marcos Aurélio Ruy)

De acordo com Siqueira, esta ocupação “é fruto da crise que se acentua no país com desemprego galopante e o aluguel caríssimo”.

Para os ocupantes, o terreno ocupado serve apenas para a especulação imobiliária. O terreno pertence à MZM Construtora e segundo os ocupantes está abandonado há cerca de 40 anos. “Estamos aqui desse o dia 1º para forçar o poder público a negociar uma solução para os sem teto de São Bernardo”, assinala Siqueira.

Mesmo com uma ação de desocupação em vigência, os ocupantes não demonstram sinais de desânimo. Amamentando sua filhinha, uma ocupante conta que essa “luta é por ela também. Você vê aqui do lado esses prédios chiques e a gente sem casa decente”.

Na quarta-feira (3), o juiz Fernando de Oliveira Domingues Ladeira deu prazo de 72 horas para a desocupação da área, após pedido da MZM. Para Ladeira, “a ausência de construção não se confunde com abandono”, por isso, “defiro, se necessário, força policial, arrombamento”, diz trecho de sua decisão.

Em nota, a Polícia Militar afirma ainda não ter data marcada para a ação. “Às 14h faremos manifestação até o Paço Municipal para tentarmos uma audiência com o prefeito (Orlando Morando, do PSDB) e conseguirmos uma solução para a falta de moradias em São Bernardo”, afirma Siqueira.

Ela afirma que a intenção do movimento é que a área seja indicada ao programa Minha Casa, Minha Vida Entidades, como ocorreu próximo à rua Adriático, no centro da cidade, em 2012, onde “ocupamos, negociamos e 910 famílias receberam suas casas”, diz.

Para ela, basta ter “vontade política” para resolver o problema habitacional. Afirma ainda que o “Judiciário precisa contemplar os dois lados. Aqui têm famílias com crianças, mulheres grávidas e idosos. Pode ocorrer um novo massacre de pessoas que apenas estão lutando por moradia digna”.