Euforia estranha da Bolsa: É bom botar as barbas de molho

Deu na Folha: "A Bolsa atingiu o maior patamar de sua história nesta segunda(11). O Ibovespa subiu 1,7%, atingindo 74.319 pontos.Foi a primeira vez que o índice das ações mais negociadas superou 74 mil pontos". Lida de forma corrida parece ser boa notícia. Somada ao estardalhaço feito pela grande imprensa em torno da "retomada econômica", parece que estamos reagindo e superando a crise. A questão é que a conta não fecha, e a realidade é outra.

Por Ricardo Cappelli*

A inflação está caindo, é verdade, numa brutal recessão com 13 milhões de desempregados é natural que os preços recuem. Com a inflação caindo e os juros reais subindo, é natural também que o governo reduza os juros em alguma medida.

O investimento público sofre uma brutal retração. A reforma da previdência sonhada pelo mercado está cada vez mais distante. O ministro do planejamento declara à imprensa que podemos não conseguir pagar nossos pensionistas e aposentados em breve.

Pode ser que tenhamos um crescimento de 0.5% do PIB este ano, é verdade, puxados principalmente pela super safra no campo, mas depois de anos seguidos de retrações que nos fizeram despencar cerca de 10%, ainda é um número que está longe de ensejar euforia.

O mercado de trabalho está longe de reagir e o endividamento das famílias continua alto, apontando que a retomada do consumo não está logo ali na esquina. O crescimento da poupança indica muito mais redução do consumo com medo do futuro do que qualquer outra coisa.

O governo federal ainda não sabe como fechar a nova meta fiscal, já majorada em 20 bilhões, um déficit significativo. O Brasil está "barato", mas é suficiente para justificar tamanha euforia? As concessões tão propagadas continuam emperradas na burocracia e na instabilidade política. As privatizações idem. Aliás, instabilidade política que está longe de acabar e que apresenta novos capítulos toda semana.

Com este cenário, de onde vem esta euforia toda da Bolsa? Lembremos de uma regra básica, científica, comprovada. Toda vez que a esquerda toma um tiro, ou que Lula sofre algum revés, qual o movimento da Bolsa? Sobe, obviamente.

Os números, os fatos e a conjuntura política não sustentam a euforia e o recorde da Bovespa. Como adepto da Teoria da Conspiração, sou obrigado a pensar: o que estaria por trás de tamanha euforia? Teria o mercado informações privilegiadas de futuros desdobramentos políticos? É bom botar as barbas de molho, o mercado não costuma brincar, e jabuti não sobe em árvore.

* Jornalista e Secretário Chefe da Representação do Governo do Maranhão no DF